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sábado, 9 de novembro de 2013

Quem é o governante de Dan 11:31-39 e quais os eventos históricos profetizados nessa seção profética?

Anteriormente (ultimos 2 textos) expliquei que os preteristas enxergam Antíoco IV Epifânio desde o v.13 até o final de Dan 11. Os futuristas gostam de Epifânio até o verso 35, mas o final eles vêem um “Antíoco” em escala cósmica, o anticristo popularizado na séria Deixado para Trás. Mas como já expliquei antes eu adoto o mais coerente método historicista de interpretação profética.

O historicismo Adventista interpreta o v.22 como Jesus no Império Romano do século I (o príncipe da Aliança). Nesse ponto todos Adventistas pesquisados concordam. Mas do v.23 ao final não há unanimidade. Eu advogo a possição de Urias Smith que vê no v.31 uma relação com Dan 12:11 (remoção do diário e estabelecimento da abominação desoladora). A abominação desoladora é o Cristianismo apostatado Papal.

As descrições feitas nos v.31-39 são profecias acerca dos séculos VI ao XVIII (do “estabelecimento” do papado em 508 até a sua remoção em 1798 – 1290 anos de Dan 12:11). Em Daniel 11 quando Roma Papal é descrita a linguagem muda de reis do norte e sul batalhando entre si para apenas o reino do norte perseguindo o povo de Deus.

Smith argumenta que a linguagem é mais espiritual que física, isso não diminui a realidade da perseguição efetuada na Idade Média. Como William Shea ele interpreta a perseguição do v.33 acontecendo nos 1260 anos de atrocidades do chifre referido em Dan 7 que é Roma Papal. No entanto, Smith vê nos v.36-39 a Revolução Francesa que deu cabo a essa fase do chifre Romano. Para ele a expressão do verso 37 “não terá respeito aos deuses de seus pais” é o Ateísmo forte que persegue os Cristãos na França. Mas isso deve ser averiguado com mais cuidado.

Creio que Smith ao isolar esse termo se equivoca em remover o foco da profecia no poder Papal. “Não terá respeito aos deuses de seus pais” creio que seja uma descrição do ataque religioso dos reis maus contra a aliança (v.26,28). Comparando esse poder de Dan 11 com o chifre pequeno de Dan 8 entendemos que essa oposição contra Deus não é expressada com o Ateísmo mas com um sistema idólatra de engano (11:38,39). A religião desse poder da Idade Média contrafaz a verdadeira religião bíblica. Assim, os v.31-39 refere-se ao poder Romano Papal até o tempo do fim (v.40).

sábado, 2 de novembro de 2013

Quais os poderes e eventos históricos que Dan 11:23-31 anuncia?

Preteristas e futuristas enxergam Antíoco IV Epifânio desde o v.13. Historicistas no entanto divergem dessa interpretação e limitam o papel desse príncipe na profecia. O ponto de transição é o v.22. Para os historicistas Adventistas o termo “príncipe da aliança” (Heb. nagid berit) é interpretada à luz de Dan 9:25 e se refere a Jesus

O Messias foi morto no tempo dos Romanos e o v.22 refere-se ao tempo do império Romano no esquema historicista. A ideia que Roma está sendo descrita nessa seção de Dan 11 já era reconhecida pelos Judeus tradutores do livro de Daniel para o grego (a Septuaginta ou LXX) antes de Cristo, visto que eles traduziram o termo hebraico kittim por romaios.

Considerando que o v.22 deve ser colocado provavelmente no tempo de Jesus Cristo e o v.31 é uma referência ao chifre pequeno na Idade Média (8:11,12; 12:11 – profana o templo, remove o diário e põe a abominação). Se os v.23-31 são lidos cronologicamente então do v.22-31 os poderes descritos são Romanos do I ao IV século AD. Essa é a maneira que Uriah Smith enxerga o texto. Já William Shea vê um intervalo do v.22 (tempo de Cristo) para o v.23 (Cruzados).

Para Shea os Cruzados da Idade Média é o poder principal do v.23 ao 39. Ele não enxerga no entanto descrições cronológicas mas temáticas. O que é bem distinto da maneira como as profecias em Daniel (2, 7, 8-9) foram proclamadas. A seção de Dan 11-12 não é uma visão mas uma descrição detalhada das visões anteriores, assim justifica-se uma nova maneira de descrever o futuro. Shea acha que o tema dos v.23-30 é a oposição militar de Roma Papal contra os santos, o tema do v.31 é a subversão do sistema da salvação pelo mesmo poder Romano, os v.32-34 foca na perseguição e o último bloco (v.35-39) destaca a exaltação própria ou orgulho desse poder.


Se os v.23-31 são lidos cronologicamente então do v.22-31 os poderes descritos são Romanos do I ao IV século AD

Considero aqui apenas duas observações quanto a interpretação de Shea. Não seria a oposição militar (v.23-30) uma perseguição aos santos (v.32-34)? A distinção entre esses blocos parece legítima pois eles são mais resumos teológicos que descrições históricas, mas eu colocaria esse resumo dos v.31-35 e não do v.32-34. Outro ponto a ser refletido no esquema de Shea é que Dan 11 não se encaixaria no estilo profético de Dan 2, 7 e 8-9 que vai do tempo do profeta até o fim cronologicamente. Assim como o livro e Apocalipse com seus interlúdios.

Acho que a maneira de Smith é mais consistente e mais coerente com a história. Nesse método cronológico de interpretar as profecias de Daniel Smith consegue demarcar 508AD como um cumprimento profético do v.31. Shea vê o “diário” como a união entre a igreja e o estado no tempo dos Cruzados e não no tempo de Clovis (508AD) ou Justiniano (538AD) que encaixa no esquema de Dan 12:11,12 (1260 e 1335 anos).

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Será que Antioco Epífanes IV aparece em Dan 11?


Preteristas e futuristas enxergam esse déspota Greco-Seleucida, Antíoco Epífanes IV como o inimigo central das profecias de Daniel. E em Dan 11 isso não seria diferente, eles enxergam Antíoco IV do v.13 em diante. Historicistas no entanto estão divididos quanto a interpretação dos v.13-20 e alguns nem acham que Antíoco está na profecia.

William Shea vê Antíoco IV no v.14 e 15 até sua destruição pelos Romanos no v.16. Urias Smith no entanto acha que o poder descrito nos v.13-15 é do seu antecessor Antíoco o Grande III. Roy Gane tem um posição semelhante porém ele acha que Roma deve ser inserida apenas no contexto do v.21. Assim para ele Antíoco III é o poder descrito dos v.11-19.

Todos concordam que Roma definitivamente é o poder do v.21 sendo o v.22 já no tempo de Jesus (I séc AD). Eles também concordam que o v.13 refere-se as atividades de Antíoco III. Assim os v.14-22 possuem interpretações diversas no meio Adventista. Enquanto Shea e Smith inserem Roma entre os v.15 e 16, Gane vê a transição dos poderes Helênicos para os Romanos apenas nos v.21-22.

Interpretar profecias, ou identificar com precisão eventos históricos com textos bíblicos é uma tarefa árdua. Requer bastante conhecimento da história e preferencialmente do texto bíblico nas línguas originais. Quanto a esse texto (Dan 11) a maioria dos intérpretes acham que as descrições dos reinos do norte e do sul devem ser lidas no contexto do Povo de Deus (Israel). Como eles interpretam profecia à luz da história é que deve ser melhor averiguada. E mais atenção deve ser dada ao texto de Dan 11.

sábado, 12 de outubro de 2013

Quando Roma surge no cenário de Dan 11? (11:14-22)



No texto anterior expliquei uma das formas de tentar entender cronologicamente Dan 11. Nesse texto explico um pouco mais sobre as razões textuais para indentificar o poder Romano nessa profecia. Como já visto devemos comparar Dan 11 com profecias de sequência histórica anteriores, como Dan 2, 7 e 8-9.  Em Dan 11:4 temos os Persas (8:20) seguidos pelos Gregos (11:3; 8:21) que são dividido pelos quatro ventos do céu (11:4; 8:22).

O padrão de reinos continua em todas as visões. Em Dan 8 após a divisão da Grécia entre os quatro ventos surge o chifre que começa pequeno e domina até os céus. Ele é o centro da visão até o fim. Em Dan 11 após os quatro ventos surge os reinos do norte e do sul guerreando entre si. Na história os quatro reinos após Alexandre duraram por pouco tempo e apenas dois deles permaneceram até o surgimento do império Romano. Eram os Seleucidas e os Ptolomeus.

Deve-se prestar atenção que o título "reino do norte" desaparece em Dan 11:16 e volta apenas no final (v.40). De Dan  11:16 apenas o rei do sul é mencionado contra um “novo” poder introduzido no mesmo verso que provavelmente é o reino do norte desde o v.15. Esse reino conquistará a “terra prazerosa” (algumas versões “gloriosa”) que é mencionada em Dan 8:9. No Antigo Testamento essa terra é principalmente a Palestina (Canaã). E o mesmo fará guerra contra o príncipe da Aliança profetizado por Dan 9.

Após os Gregos surgiram os Romanos que conquistaram a Palestina, mataram a Jesus e deram origem ao poder perseguidor que dura até o tempo do fim, em sua forma pagã e religiosa. Portanto, baseado nesses paralelismos, acho que Roma é introduzido no verso 15 como o reino do norte. Esse poder é o centro das atenções até o final quando ressurge o reino do sul antes de Miguel terminar a visão com a ressurreição dos justos (Dan 12).

E provavelmente as fases pagã e religiosa de Roma são distintas como em Dan 8. A divisão mais coerente é introduzir a segunda fase de Roma de Dan 11:31 visto que a profecia refere-se a profanação do santuário, a tomada do diário e o estabelecimento da abominação desoladora como em Dan 8:11,12. Ou seja, desde Dan 2 passando por 7, 8-9 a última visão sobre os poderes inimigos de Deus foca mais sua atenção no último poder que mais afeta(rá) a obra de salvação divina, Roma, que não terá sucessor até o reino dos céus.

Comunicação Divina: Assim como Deus começa com um panorama geral da história mas depois foca no mais importante, devemos também priorizar o reino que mais afetará nossa vida, o reino dos céus (Mat 6:33).

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Como estabelecer uma cronologia de Dan 11?


Daniel 11 não é um capítulo fácil de ser entendido. No entanto, como profecia ela foi escrita com o intuito de revelar o desenvolver da história da salvação. De acordo com a interpretação profética historicista textos claros devem iluminar passagens não tão claras. Neste caso, para entendermos Daniel 11 devemos compará-lo com profecias anteriores no próprio livro.

Por esse método comparativo pode-se  notar que todas as profecias apocalípticas (Dan 2,7,8-9,11-12) possuem um esquema semelhante. Através de paralelos textuais claros o leitor atencioso percebe pontos de referência ou pontos de transição histórica em Dan 11 à luz de clara explicação em profecias anteriores. Por exemplo:

11:2 – Pérsia (Dan 8:20)
11:2 – Grécia (Dan 8:21)
11:3 – poderoso rei da Grécia (8:21 – Alexandre)
11:4 – espalhados para os 4 ventos do céu (8:22 –império de Alexandre dividido em 4 seções)
11:16 – bela terra conquistada (bela  = Heb. tzebi  8:9 – império após Grécia [Roma] conquista Palestina)
11:22 – Príncipe da Aliança será destruído (9:25 – Romanos “cortam” o Messias Príncipe)
11:30 – Santa Aliança (9:27 – Jesus confirma aliança com verdadeiro Israel)
11:31 – profanação do Santuário, remoção do ‘diário’ e instituição da abominação desoladora (8:11,12; 9:26,27 – desde o tempo de Jesus os Romanos atacam o sistema de culto divino com abominações)

Vendo os paralelos acima podemos demarcar pontos históricos em Dan 11. A sequência de reinos é a mesma de visões anteriores: Medo-Pérsia, Grécia, Roma até o fim (11:35,40,45). A cronologia e o cumprimento histórico contínuo (do tempo do profeta até o estabelecimento do reino de Deus) ainda prevalece em Dan 11. O paralelismo delineado acima ajuda o intérprete a demarcar claramente Dan 11 na história. Tais demarcações são explicadas pelo próprio livro (anjos).

A partir do esquema acima podemos explicar Dan 11 da seguinte forma: v.1-2 = Medo-Pérsia, v.3-15 = Grécia, v.16-22 = Roma até o tempo de Jesus Cristo, v.31-12:1= Roma papal até o fim (cf.12:11). Tal esquema deve ser no entanto refinado, principalmente os v.16-30, onde as descrições são semelhantes aos do chifre “pequeno” de Dan 7 e 8. O que essas descrições sugerem é que apesar das fases (pagã e papal) o poder Romano continua o mesmo como em Dan 8 (o chifre “pequeno” é tanto Roma pagã como papal) e Dan 7 (chifre “pequeno” surge da besta Romana).

O intérprete de profecias apocalípticas deve sempre ter em mente que textos apocalípticos estão interessados em descrever “história sagrada” à luz do povo de Deus. Assim o foco será eventos marcantes na história da redenção e não detalhes exaustivos. Isso permite certo intervalo de tempo ou generalizações cronológicas mas nunca grandes intervalos de tempo entre um poder e outro (como no futurismo). Ao interpretar profecias apocalípticas deve-se procurar atentatemente por padrões ou coerência contextual.

Comunicação divina: Deus é coerente não somente em Suas revelações mas em Sua obra de salvação explicadas nessas profecias.

sábado, 7 de setembro de 2013

Qual a relação entre a revelação divina em Dan 11-12 e a revelação anterior de Dan 2, 7, 8 e 9? (10:14; 11:1-12:13)


A relação entre Dan 11-12 com o resto do livro é temática. A primeira relação é que enquanto Dan 2, 7, 8 são visões simbólicas, Dan 9, 11-12 não são visões mas interpretações ou descrições futurísticas por meio de um anjo. Mas, a estrutura histórica básica é mantida mais ou menos do tempo do profeta ao tempo do fim. Por exemplo:

11:2 – Persia (Dan 8:20);
11:2 - Grécia (8:21); 11:3 – poderoso rei da Grécia (8:21 – chifre proeminente – Alexandre o Grande);
11:4 espalhado pelos 4 ventos do céu (8:22 – reino de Alexandre espalhado em 4 seções;
11:16,41 – terra prazerosa (8:9 – poder após a Grécia [Roma] conquistando a terra prometida [Palestina]);
11:22 – Príncipe da aliança será destruído (9:25 – Romanos matam o Messias Príncipe [Jesus]);
11:30 – santa aliança (9:27 – Jesus confirma a aliança com o verdadeiro Israel);
11:31 – profanação do santuário, retirada do “diário” e a substituindo com a abominação desoladora (8:11, 12: 9: 26,27 – do tempo de Jesus os Romanos atacam o sistema de culto divino);

Outras similaridades:
Perseguição  - 7:25, 8:10, 11:32-34; 
Exaltação blasfemadora (7:8, 20, 25; 8:10-11; 11:35-39);
Selamento da visão (8:26, 12:4).
Revelação a beira de um rio e prostração do profeta mediante revelação (8:2, 10:4; 8:18, 10:9)

Assim, considerando essas demarcações textuais podemos entender na sequência de reinos de Dan 2,7 e 8 a mesma estrutura em Dan 11-12. Os reinos são da Medo-Pérsia, Grécia e Roma até o fim (11:35, 40, 45). A cronologia e cumprimento histórico contínuo do tempo do profeta até o estabelecimento do Reino de Deus no fim é seguida por todos esses textos. Os paralelismos entre Dan 11 e as outras visões ajudam o intérprete da profecia a ancorar demarcações claras em Dan 11 na história.

Perceba que essas visões apocalípticas são reveladas em progressão. Uma continua a outra revelando mais detalhes. Dan 2 é um panorama geral, 7-11 são detalhamentos desse panorama onde Deus achou importante explicar para Seu povo.

Comunicação divina: A mensagem é que reinos perseguirão o povo da aliança mas no final desse período de provação o Príncipe da Aliança salvará Seu povo.

sábado, 31 de agosto de 2013

Quem são os príncipes de Dan 10?


Há um impasse interpretativo para alguns sobre a identidade dos príncipes que lutam contra (resistem) Gabriel e Michael: são seres espirituais (anjos caídos) ou seres humanos? Se for humanos os candidatos desse período são Ciro, seu filho Cambises II (que é mencionado em Profetas e Reis 572). De acordo com Ellen G. White Cambises II reinava quando “a obra no templo progredia devagar” (Dan 9:25?). Como a visão é dada no terceiro ano de Ciro (c.555BC) e Cambises reinou após Ciro essa leitura acima requer possivelmente um tipo de co-regência ou alguma influência política na região da Palestina já no período da visão.

Assim, se os príncipes da visão são seres humanos isso quer dizer que líderes seculares são responsáveis por interromper o trabalho e Deus via restauração de Jerusalém de alguma forma como descrito no livro de Neemias e Esdras. Em Dan 11 os reis do norte e do sul representam figuras humanas, o que pode indicar que Dan 10 também retrate figuras humanas. Apesar da palavra sar or nagid (principe) não ser usado para Daniel ele é também considerado um líder político (Dan 3, 6).

Se sar (príncipe), usado em Dan 10, é o título de poderes espirituais eles devem ser anjos associados a monarcas Persas que influenciaram a  história do povo de Deus. O Messias é chamado de príncipe (Heb. nagid) em Dan 9. Visto que o Messias é Michael (miguel), um ser angelical em Daniel, existe um precedente no próprio livro para que Dan 10 retrate seres espirituais (anjos). Nesse caso o foco é uma batalha mais espiritual relacionada a restauração de Jerusalém e do templo. Relacionados a isso temos as profecias de Daniel 8 e 9 que é referida em 10:1 (mareh [visão], tsava gadol  [grande exército]).

Eu creio que há verdades em ambas as possibilidades. Me parece que os “príncipes” da Pérsia e Grécia são primariamente poderes espirituais que influenciam líderes pagãos (humanos). (ver II Reis   ; Ez 28; Is 14; Zec 3) Esses textos sugerem que existe um grande conflito onde humanos e anjos estão envolvidos em forças espirituais e físicas. Elas não se excluem. Luta espiritual é bem física. Assim não posso identificar esses seres em Dan 10 especificamente.


Comunicação divina: Essa talvez seja a principal lição do texto. O foco não está nas forças do mal sejam elas espirituais ou humanas (ou ambas). Sua mensagem é que os inimigos do povo de Deus serão vencidos por Miguel. O importante é a identidade e obra de Miguel e não dos inimigos “sem nomes”. 

sábado, 13 de julho de 2013

Quem são os “príncipes” do reino da Pérsia e Grécia, e o que está acontecendo em Dan 10?


Em Daniel 10:13,20,21 há a referência  de príncipes (Heb.sar – palavra de influência Persa). Como o vocábulo é comum para referir a um líder, que tipo de líderes são esses? O contexto mostra que esses “príncipes” da Pérsia estão lutando contra Miguel o príncipe de Deus. Então temos um ser celestial nessa luta.

Em Daniel 9 “o homem Gabriel” (Heb. haish) conforta o profeta e lhe dá entendimento sobre a visão do capítulo 8. Em Dan 10:1 o ambiente é o mesmo, uma visão acerca de um grande conflito, o profeta fica perplexo e Deus dá entendimento a Daniel. Então podemos inferir que Gabriel é o mesmo ser que aparece em Dan 10 cumprindo a mesma missão.

O primeiro ser é um “homem” (Heb.ish – v.5) com aparência celestial como o ser em Ezequiel 1 e Apocalipse 1, que é Jesus Cristo. A mesma reação ocorre com todos os três profetas perante tal ser – como uma teofania (manifestação divina) eles prostram como mortos (Dan 10:9,17; Ez 1:28 e Apoc 1:17; ver também Isa 6). O segundo ser em Daniel 10 vem para encorajar Daniel e fortalece-lo, como Gabriel o fez no episódio anterior (Dan 9:21-23; 10:11,12). Note que Gabriel é um ser distinto de Miguel que é referido por ele como um poderoso príncipe.


No texto de Dan 10 a ênfase está em Miguel. Há um contraste entre a interjeição hineh (Eis) Miguel e hineh (Eis) o príncipe da Grécia (v.20). A mensagem do anjo é que apesar da inimizade desses príncipes da Pérsia e Grécia (que viriam), Miguel “seu príncipe” defenderá Seu povo assim como Ele defendeu o próprio Gabriel (v.21). Mas então, quem são os príncipes da Persia e Grécia? (próximos texto)

sábado, 6 de julho de 2013

A que(m) se refere a “desolação” em Daniel 8:13, 9:27, 11:31 e 12:11?


Primeiramente é importante notar que a expressão “desolação” (Heb. shomem) está no particípio o que funciona como um substantivo. Ele é qualificado nesses textos por “destestável” (Heb. shiqutz - 9:27, 11:31 and 12:11) e “transgressão” (Heb. pesha’ - 8:14). Portanto, o que é certo no próprio livro de Daniel é que shomem é algo negativo para Deus e Seu povo. E está relacionado com quebra dos mandamentos divinos.

No Antigo Testamento shiqutz (destestável) ocorre mais vezes nas acusações proféticas contra idolatria. Fora dos profetas a reação divina é a mesma contra idólos (Deut 29:16, I Rs 11:5,7, II Rs 23:13, II Cr 15:8) ou tudo que involve um estilo de vida pagão (II Rs 23:24). Estilo de vida idólatra inclui principalmente imoralidade sexual (Jer 13:27, Ez 20:30). Em Ezequiel é prometido durante o cativeiro Babilônico que Deus purificará (Heb. taher) tais impurezas de Israel ao traze-los de volta para Jerusalem (37:23).

Daniel se enquadra bem nesse contexto de idolatria, impureza e purificação do povo de Deus. De acordo com essa visão haverá(ria) um poder na história que, semelhante aos povos inimigos de Israel antigo, traria abominações através de sua religião pagã e estilo de vida contrário aos mandamentos divinos para dentro de Israel.

Jesus em Sua mensagem profética no monte das Oliveiras (no vale de Josafá – vale do juízo em Joel) refere-se a tal poder vindo sobre Jerusalém nos dias dos discípulos num futuro próximo de Sua morte (Mat 24:15). Esse poder trouxe a destruição de Jerusalém e do templo no ano 70AD. Com Tito os Romanos extinguiram a rebelião dos Judeus que centralizaram sua influencia politico-religiosa no Templo. Portanto, Jesus sugere que os Romanos cumpriram o papel do poder abominável.

Certamente os Romanos era pagãos idólatras, e seus estandartes militar representavam deuses, e eles perseguiram o povo de Deus (Judeus e Cristãos). Mas a dimensão da visão de Daniel 8 vai além do tempo de Cristo no I AD. E o mais importante em Daniel 8 é que o ataque desse poder atingiria o santuário de Deus nos céus. O Novo Testamento ensina que após a cruz o centro de atividade liturgica e salvífica divina ocorre(ria) no santuário celestial (ver principalmente Hebreus e Apocalipse). Portanto Roma no tempo de Cristo cumpre apenas parte da inimizade descrita pelo chifre em Daniel 8.

Em Daniel 7 e Apocalipse 12, 13 e 17 tais profecias mostram que haveria um poder que sairia de Roma e teria características religiosas em semelhança e oposição ao culto divino verdadeiro. Esse poder é até representado por uma mulher que é o símbolo do povo de Deus (Apoc 12 e 17). Mas não uma mulher pura, mas uma prostitua impura cheia de abominações relacionada a idolatria e imoralidade sexual. E finalmente, esse poder continuaria após o império romano até a purificação divina ou juízo final. Tais características só se encaixam com uma instituição na história. Roma que se diz Cristã mas na verdade está cheia de impurezas e transgressões aos mandamentos divinos. (ver http://rodrigogaliza.blogspot.co.il/2013/01/atacando-o-santuario-e-os-santos-parte-2.html)

sábado, 22 de junho de 2013

Quem é o “príncipe que há de vir” e qual diferença faz em como interpretá-lo? (Dan 9:26)

Já vimos que em Israel reis, profetas e sacerdotes eram ungidos, e Jesus também foi de acordo com o NT cumprindo a função dos três. No Adventismo há pelo menos duas interpretações acerca do “príncipe”. Uma linha (e.g.William Shea) interpreta o príncipe como Jesus nos versos 25 - mashiah nagid (príncipe ungido) e 26 – mashiah (ungido). Consequentemente ‘am nagid haba’ (povo do príncipe a vir) é identificado como sendo os Judeus no tempo de Jesus Cristo.

Enquanto isso, Roy Gane  interpreta o nagid (príncipe) do v.26 como  Tito, o general/imperador Romano. Esse líder pagão “viria” (haba’) para “destruir a cidade e o santuário”. Assim o ‘am nagid haba’ (povo do príncipe a vir) deve ser os Romanos. Para Gane o ungido do v.25 não é o mesmo do v.26. Como Shea, Gane também interpreta v.25 como Jesus Cristo.

A diferença nas interpretações é o ponto de conexão do v.26. Enquanto Shea enfatiza a conexão do nagid com o verso anterior, Gane enxerga uma maior conexão com a destruição descrita no verso a ser executada por esse nagid. Que Jerusalém foi destruida pelos Romanos em 70AD não é questionado. As implicações são as seguintes: para Shea a destruição da cidade e do Santuário são resultados dos pecados de Israel; para Gane o focus da destruição é removido dos Judeus para os Romanos.

Em Daniel 10 forças espirituais que influenciam os reis pagãos são descritos como príncipes, mas nesse capítulo a palavra sar e não nagid é usada (Dan 10:13, 20). Essa mesma palavra também qualifica Jesus. Ele é identificado como hasarim ha rishonim (o principal/primeiro dos príncipes – v.13). Portanto, em Daniel a terminologia de “príncipe” pode ser tanto um poder divino ou contra Deus.

O interessante é que em Daniel 10 os “príncipes” são seres espirituais – não criaturas humanas (Jesus ou demônios). Se isso for aplicado a Daniel 9 a interpretação do nagid como Tito deve ser revista. Outra ideia que sugere a coerência argumentativa de Shea é Dan 11:22, onde a expressão nagid berit (príncipe da aliança) é usada, e eles concordam que nesse caso o texto fala de Jesus Cristo.

Não ignoremos porém o argumento de Gane acerca de Dan 9:25-27. Ele enxerga um paralelismo ABABAB onde a primeira parte (A) descreve atividade de Jesus e a segunda (B) a destruição. Isso significa que o príncipe deve ser colocado na seção B com a destruição separada das atividade Messianicas. Para ele isso é coerente com o esquema das visões em Daniel 7 e 8 onde o poder assolador (que destrói) é sempre o inimigo de Deus (chifre que começa pequeno) representado por Roma que persegue Jesus e Seu povo. Assim, Tito como o principe dos Romanos se encaixa perfeitamente nesse esquema.

sábado, 8 de junho de 2013

Por que as 7 semanas foram destacadas das 70? Qual o significado desse período e seu cumprimento? (Dan 9:25)


O texto das 70 semanas tem uma forma poética em Hebraico o que pode sugerir apenas uma forma alternativa literária de expressar tempo. A forma de tempo usada pelo anjo é diferente e única. William Shea acha, no entanto, que há um significado histórico-profético nessa semana. Ele relaciona a primeira semana com a ideia final do verso – o “tempo de angústia” quando Jerusalem foi reconstruída (Esd 4 e Neemias). Mas mesmo o Shea reconhece que não há dados históricos para determinar tal evento.

Roy Gane no entanto acha que não devemos enxergar algo histórico (visto que não temos comprovação histórica). Ele sugere que a separação das semanas faz uso da linguagem do Jubileu (Lev 25). O ciclo de 7 semanas é um Jubileu (49/50 anos). Daniel 9 tem um Jubileu multiplicado por 10 (490 = 70x7 ou 49x10) o que indicaria sua maior importância. Gane sugere que a importância é sua aplicação para toda a nação de Israel ao invés de indivíduos em Israel. Se eu entendi corretamente sua explicação creio haver problemas nessa aplicação a Israel, mas sua ideia geral de interpretação soa coerente.


Não podemos ignorar que tal explicação (Gane) não anula a possibilidade de um cumprimento histórico como o Shea sugere. Falta de evidência histórica não dever ser motivo para ignorar tal interpretação. Haja vista a última semana que se refere a cruficixão de Jesus e o apedrejamento de Estêvão, datas ainda hoje debatidas e com pouca (ou nenhuma) documentação precisa.  A lógica é que o anjo está dando já a chave de interpretação de como interpretar a profecia. Assim, não dependemos de algo que talvez nunca tenha acontecido em 408 AC.

sábado, 1 de junho de 2013

Quando o decreto para restaurar e reconstruir Jerusalem ocorreu? Quem decretou? A profecia refere-se ao tempo que o decreto foi ordenado ou cumprido?


Em Dan 9:25 o anjo diz que ao motza’ dabar (Heb. “sair a palavra”, “for decretado”) as 70 semanas começariam. Motza’ vem provavelmente do verbo ytzr (Heb. “come out, go”). Se ele for conectado com a pergunta de tempo (ad matay – até quando?) em Dan 8:13 a expressão indica a relação entre as 2300 tardes e manhã e as 70 semanas. Desmond Ford sugeriu que lhshyb (Heb. “voltar, trazer de volta”) se refere ao retorno dos Judeus de Babilônia descrito no cilindro de Ciro o rei persa, cerca do ano 520 AC (Esdras 1).

Esdras 6:14 parece interpretar Daniel 9 diferentemente e mais tarde. Roy Gane argumenta contra Ford e sugere que a expressão lhshyb vlbnt (Heb. “trazer de volta e reconstruir”) tem como objeto direto Jerusalém. Em sua pesquisa sobre a forma verbal hifil de shb (Heb. “retornar”) ele descobriu que esse verbo é usado em contexto de restauração política, o que o decreto de Ciro não ordena, visto que Jerusalem continuou como cidade dependente da Medo-Persia. Assim ele sugere que apenas o decreto de Esdras 7 se encaixa na intenção de Dan 9:25.

De acordo com essa interpretação Esd 6:14 descreve o decreto que restaura Jerusalem começando com Ciro mas que finalmente foi implementado com Artarxerxes I (Longimanus). Esse decreto é descrito em Esd 7 e sugere uma restauração política de Jerusalem mais plena como contempla Dan 9:25. O argumento de Gane é que o significado de motza’ é semelhante ao de dabar ytzr em Est 1:19, 3:15 e 7:8 que descreve um processo e não apenas um dia específico. Então para ele o “dia do decreto” é quando ele foi implementado, ou seu período final, o que no caso do decreto de Artarxerxes é Esd 6:14. Esse mesmo texto diz que o decreto procede de Deus e não apenas de Artarxerxes.

Se a resposta de Gane for adotada vemos que profecias de tempo em Daniel precisam datas (especificam um tempo) apenas ao sugerir um período ou processo histórico mais longo. Por exemplo, nos períodos de 1260 e 1290 dias-anos interpretado pelos Adventistas como aplicando a relação igreja-estado do império romano na época de Justiniano. Um de seus decretos foi “promulgado” em 533AD mas apenas implementado ou posto em prática em 538AD. E Clovis se “converteu” em 501AD mas apenas em 508AD ele foi batizado  e removeu os inimigos “hereges” apenas anos depois. Assim, qual data usar para determinar o início desses períodos proféticos?

Minha impressão é que as profecias apocalípticas indicam eventos precisos como demarcadores de processos históricos mais importantes que é o objetivo da profecia. Assim como no estudo da história marcamos períodos e transições com datas precisas mas isso não sugere que uma era acabou e outra começou de um dia para o outro (e.g. Idade Media à Modernidade à Pós-modernidade). Assim também nesses grande períodos proféticos. E acho que essa maneira de interpretação profética historicista deveria ser aplicada na interpretação do tamid.

sábado, 25 de maio de 2013

O que significa “ungir o santo dos santos”. Quem faria isso e como? (9:24)

A unção é um evento importante nas 70 semanas de anos em Daniel 8-9. O anjo conecta a unção com o término da transgressão, o fim da iniquidade e o estabelecimento da justiça eterna. A linguagem soa como as promessas da vinda do reino de Deus que trará(ria) livramento do pecado. Como parte desse plano divino de libertação está a unção do qdsh qdshym (Heb. “santo dos santos ou santíssimo”).

Em Dan 9:25-27 o “ungido” será removido (Heb.krt), fará cessar as ofertas no santuário e confirmará a aliança. De acordo com a interpretação Cristã predominante o “ungido” é Jesus chamado “Ungido” (Grego – “Cristos”, Heb. “Meshiah”). No NT os apóstolos repetidamente referem-se a unção de Jesus em Seu batismo. No evangelho de Marcos há um paralelismo entre o batismo de Jesus (Mar 1) e sua crucifixão (Mar 15): duas figuras de Elias, “partido/cortado” (apenas em 1:10 e 15:38 – referência a krt??), expiração relacionado a Jesus (espírito), Jesus reconhecido como “Filho de Deus”.

O paralelo é reforçado em Mar 10:38-39 quando Jesus pergunta se Seus discípulos poderiam ser “batizados” com o batismo de sofrimento (ou sangue) ainda a ocorrer (futuro – Cruz). Paulo também em Romanos 6 interpreta o batismo de Jesus com a sua morte, e o próprio Jesus sugere isso em João 3 para Nicodemos (morte e vida nova do espírito como um batismo).

No Antigo Testamento a unção do qdsh qdshym (Heb. “santo dos santos ou santíssimo”) é a dedicação do  santuário. No AT o santuário era ungido com óleo e sangue. Não apenas os utensílios do tabernáculo como os sacerdotes era ungidos na ocasião de sua inauguração aos serviços da salvação (Lev 8-9). O livro de Hebreus diz que Jesus  veio para estabelecer a verdadeira ministração no verdadeiro santário (no céu) que foi prefigurado pelo santuário Mosaico. Na mesma maneira as coisas celestiais deveriam ser “ungidas” (Heb 9).

Lembrando que o santuário era a habitação de Deus com a humanidade (Exo 25:8-9) podemos entender a relação entre o santuário e pessoas ungidas no Antigo Israel. Sacerdotes, reis e profetas eram ungidos. Eles eram representates de Deus, podemos dizer, a presença de Deus entre os homens. Jesus declarou ser a presença de Deus entre os homens (o próprio Deus em carne – Evangelho de João; especialmente cap.1-2 e 5-6). Ele funcionou não só como um profeta, mas como Rei e mediador-sacerdote.

Assim, Jesus Cristo começou uma nova ministração no santuário, a verdadeira prefigurada por Moisés. Creio que dessa forma a “unção dos santos dos santos” em Dan 9:24 deve ser interpretada de uma maneira ampla como a nova fase no plano da salvação com a ministração direta de Jesus Cristo como templo e sacerdote – o verdadeiro no céu. Começando com Seu batismo, seguindo à Cruz e subindo ao céu onde Jesus inaugurou o verdadeiro tabernáculo para interceder pessoalmente perante o Pai (Apoc 4, Atos 2 e Heb 8).


Comunicação divina: a unção divina é o envolvimento íntimo de Deus em nossa salvação. Jesus é o Cristo – o Ungido de Deus, o único que pode nos salvar, e tudo isso já estava nos planos dEle desde os tempos antigos – eu e você.

sábado, 18 de maio de 2013

O que o anjo quis dizer com a expressão “purificar” (Heb.nsdq) o santuário?



O verbo nisdaq tem um significado abrangente bem usado no contexto de julgamento. Na forma nifal (que aparece em Daniel) ele tem o sentido amplo de “justificar, vindicar, corrigir, reabilitar”. Como ele foi usado nessa forma apenas aqui em Daniel seu significado preciso é difícil de determinar. Comparando com sua tradução grega na LXX (Septuaginta – tradução Judaica do Antigo Testamento no II séc AC) vemos que os judeus entenderam esse verbo como kataristhesetai (Gr. “tornar limpo, purificar”).

Esse significado amplo de purificar-limpar-justificar é encontrado no sistema judicial religioso de Israel no santuário. No livro de Levíticos os rituais prescritos por Deus mostram que impurezas morais e físicas estavam relacionadas. Ofertas era oferecidas para expiar (Heb. kipper) ambos os tipos de impureza. Nos rituais do santuário Israelita purificação era justificação. Como hoje alguém que faz algo ilegal tem o nome "sujo".

O leitor moderno deve entender a razão cultural pra tal associação. Religião no Antigo Oriente permeava todos os aspectos da vida. Assim, visto que Deus era o ser perfeito, qualquer variação do padrão divino era considerado pecado-impureza-doença. Assim doenças era consideradas maldições que Deus poderia resolver no contexto do santuário. Os israelitas traziam suas impurezas através de ofertas e transferiam para o santuário, para Deus. Assim podemos dizer que a casa de Deus funcionava como uma esponja de sugava a sujeira dos Israelitas.

Visto que Dan 8 possui linguagem do santuário especialmente aludindo ao ritual do Dia da Expiação é importante notar que esse dia era o dia do juízo final. Durante todo o ano o santuário recebia as impurezas dos israelitas, mas havia um dia que a casa de Deus era limpa de suas impurezas. Era nesse dia que os pecados eram purificados do santuário e consequentemente dos que depositaram eles ali em primeiro lugar (Lev 16). 

Nesse ritual todos era purificados, justificados – Deus, o santuário e os arrependidos. Essa linguagem de purificação também é encontrada em Jó 4:17 e 25:4 onde o verbo tsdq (Heb. “justificar”) é sinônimo com thr (Heb. “puro”) ou zkh (Heb. “limpo”). Note que em Lev 16:30 o objetivo final do ritual da Expiação era tornar o pecador thr (limpo).

Assim quando o anjo menciona que o santuário será “purificado” ele está aludindo ao objetivo final do plano da salvação divina. Até então os pecadores têm depositado seus pecados em Deus via Cristo (e.g. I Jo 1:9; Rom 5-6; Jo 1:29; II Cor 5:21) mas há um dia que o santuário será purificado. Em Lev 16 é descrito que nesse dia o arrependido era purificado e o não-arrependido (que se apegou ao seu pecado) era destruído (Lev 23:29,30). E Daniel informa quando esse dia começa, em 2300 dias-anos.

Comunicação divina: o juízo divino mostra que um dia todo o pecado será destruído e quem estiver apegado a ele também. Se apegue a Jesus e deixe Ele te purificar.

sábado, 27 de abril de 2013

Qual o significado da expressão “tarde(s)-manhã(s)”? (v.26 – “as tarde(s) e manhã(s))



O uso de ereb-boqer (tarde-manhã) é comum para expressar tempo no Antigo Testamento. Pela primeira  vez ela é usada em Gen 1 explicando temporalmente os primeiros dias (heb.yom). Ela não possui uma forma fixa, mas é usada tanto  na sequencia ereb...boqer (tarde-manhã) como boqer...ereb (manhã-tarde). Visto que no contexto de Daniel essa expressão é para qualificar os rituais do santuário é importante entender como essa ela foi usada nesse contexto.


Em Exo 27:21 Moisés é comandado a ordenar os sacerdotes a manter a lâmpada do tabernáculo acessa mereb ad boqer...olam (heb. desde a tarde até a manhã...para sempre). Quando lemos o registro dessa atividade em Lev 24:3,4 a expressão mereb ad boqer (heb. desde a tarde até a manhã) é associada com tamid (continuamente) e olam (perpetuamente, para sempre). Em Dan 8:14 a preposição ad (até) vem antes da descrição de tempo. Mas creio que não podemos ignorar a conexão com essa ministração diária no santuário, especialmente porque a expressão tamid é mencionada em Dan 8.

A expressão ereb boqer com a preposição ad (até) e o advérbio tamid (diário) também é usada em Num 9:15-16,21 com referência a presença de Deus numa nuvem e pilar de fogo guiando Israel. Há uma conexão temática entre a lâmpada sempre brilhando no santuário e a presença de Deus no pilar/nuvem iluminando os passos dos Israelitas.

Acerca de mais uma referência ao tamid (Num 28 e 29, Exo 29:38-46 e Lev 6:8-13) percebe-se a conexão entre sacrifício contínuo ou holocaustos (‘olat hattamid) e Daniel 8. Nessas passagens os holocaustos consistem de 2 cordeiros que são uma unidade oferecidas no santuário pela manhã e pela tarde (Num 28:4- boqer...ereb). Apesar da inversão da expressão presente em Daniel 8 esses textos mostram que a expressão ereb ...boqer é usada no contexto do ciclo do culto no santuário. Esse ciclo é referido com outros termos layla ad boqer (noite até manhã – Lev 6:9; MT v.2), dia e noite (yom vlayla – Num 9:21).

Isso sugere que o ciclo da criação é usada nos rituais do santuário Israelita e tais expressões denotam um serviço de salvação constante. Deus opera constantemente/diariamente pela salvação da humanidade. O exemplo da luz  (pilar e candelabra) e dos sacrifícios no tabernáculo ensinam essa constância. Ou seja, em Daniel 8 há uma transição da ministração diária para o dia do juízo - que era o ritual anual da expiação num único dia (Lev16 e 23)– após 2300 dias (tardes e manhãs)-anos.

sábado, 6 de abril de 2013

9) As 2300 “tardes-manhãs” cobrem qual parte da visão visto que a pergunta do santo no v.13 menciona apenas o final dela?


Dan. 8:13 é uma pergunta de um santo acerca da visão até então revelada ao profeta. Um santo pergunta, até quando? E os elementos mencionados na questão refere-se as coisas vistas anteriormente (v.10-12), que é a culminação da visão. Isso não significa que a pergunta, e consequentemente o tempo da resposta (v.14), se limita ao final.

A questão do santo é sobre a hazon (visão) que é o todo visto por Daniel, como bem explicado pelo anjo e o próprio Daniel (v.1, 17, 26). No entanto o que a questão levantada pelo anjo realça é o ápice da visão. Por isso a relação entre o v.13-14 com os v.10-12 são fortes. A ênfase da visão é o ataque religioso do “pequeno” chifre. 

Como em Dan.7 o foco também foi o último poder inimigo de Deus (o animal terrível e espantoso de onde sai um chifre “pequeno”). Poderíamos até dizer que as outras bestas/animais ou chifres são apenas contexto para que o leitor preste atenção no que realmente interessa – a identificação precisa do último poder satânico e sua contrafação do sistema de salvação divina.

sexta-feira, 22 de março de 2013

O que é o hattamid (“regularidade”, “diário”)? (Dan 8:11-12)


Textualmente a referência ao hattamid (o contínuo) é ao serviços do santuário. O advérbio com artigo (como aparece em Dan 8) ocorre 24x no Antigo Testamento sempre qualificando outro vocábulo. Seu significado básico é “contínuo, regular, sem interrupção”. Com excessão de Neemias 10:34 onde ela ocorre duas vezes em referência ao minha (oferta de grãos) e o olah (holocausto – oferta de animal), todas as outras referências fora de Daniel estão em Num 4, 28 e 29. 

Devemos lembrar no entanto que em Daniel esse advérbio encontra-se sozinho, sem objeto a qualificar, o que torna sua interpretação controvertida. Mesmo assim veremos quais as coisas que o advérbio tamid mais qualifica nessas passagens do Antigo Testamento.

Em Num 4:7 tamid qualifica o pão da proposição que permanecia continuamente no templo perante o Senhor. Em Num 4:16 tamid qualifica apenas a oferta de grãos (minha) que deveria ser oferecida continuamente no templo. Em Num 28 e 29 tamid refer-se apenas ao holocausto (olah) em conexão com as festas santas, os sábados (semanais e mensais). O olat hatamid (holocausto contínuo) no entanto é contrastado com ofertas especiais dessas celebrações. Isso porque as ofertas qualificadas tamid eram aquelas regulares oferecidas todos os dias pelos sacerdotes no santuário.

O que essa informação indica é que hattamid por si em Daniel deve/pode referir-se aos trabalhos diários dos sacerdotes no tabernáculo. Outra informação que nos ajuda entender o hattamid é a expressão ereb-boqer (tarde-manhã). Ela ocorre em Lev 24:3 junto com o advérbio tamid (sem artigo) referente aos serviços contínuos dos sacerdotes para manter a chama do candelabro sempre acessa. 

Assim, quando Dan 8:14 e a purificação do santuário anual é contrastada com o serviço contínuo do santuário um notamos que o “chifre pequeno” tenta destruir os serviços diários de salvação no santuário celestial, mas Deus estabelece um dia de juízo (Expiação) para destruir os que desobedecem.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Como pode o “chifre pequeno” afetar o povo e as coisas que pertecem ao céu? (Dan 8: 10-13)


A visão de Dan 8:10-13 representa o poder inimigo a Deus que ataca o Seu santuário, as hostes celestiais e joga a verdade por terra. Como pode um poder terrestre afetar as esferas celestiais? Primeiramente, essa questão não deve ser mal-interpretada e sugerir uma separação completa de ação entre o divino e o humano. De acordo com as Escrituras a esfera divina se relaciona com a humana. 

Diferente do dualismo platônico adotado pelo Cristianismo na Idade Média (como vimos anteriormente), o Deus da Bíblia criou no tempo e no espaço e agiu (age) na criação. Deus falou com Moisés face a face, manifestou-Se aos  Israelitas no monte Sinai, habitou numa nuvem no tabernáculo falando com eles. Jesus como Deus-homem andou entre os homens e se envolveu intimamente com a criação. Assim as Escrituras ensinam que a esfera celestial está intimamente relacionada com a terrestre.

De importância particular nessa discussão sobre presença e ação divina em Daniel está o santuário. O santuário é a habitação de Deus entre os homens (Ex. 25:9). Jesus é a presença de Deus entre nós e o tabernáculo (Jo.1:1-14; Mat 1:23). Como no serviços do tabernáculo onde os pecadores transferiam seus pecados para o templo, assim Jesus tomou sobre Si os pecados do mundo na Cruz morrendo pela humanidade caída (Is.53; Rom 5-7 e II Cor 5:21). Após a ressureição e assunção de Cristo ao céus, os pecadores estão representados em Cristo no santuário celestial (Ef. 2:6; Heb 2:17-18; 4:15). É nessa maneira que os pecados afetam as atividades celestiais e seus seres.

Em Daniel 8 o “chifre pequeno” ataca os “exércitos dos céus” e o santuário, mas como? Se as hostes celestiais forem o povo de Deus (v.24 – sendo tanto anjos como humanos, ou apenas humanos) o texto afirma que esse inimigo os destrói de certa forma. As Escrituras descrevem como os seres humanos criados a imagem de Deus foram atacados na história. Ela também ensina que a Igreja (Seu povo) é sua esposa ou Seu próprio corpo, significando uma forte identificação (I Cor 12:14). Assim, quando o povo de Deus sofre Deus sofre. Como um pai que toma as dores de seu filho assim Cristo padece e intercede pelos Seus (Heb 2:14-18;4:14-16).

Por exemplo, na estrada de Damasco quando Paulo perseguia os discípulos de Jesus, Cristo apereceu a Saulo dizendo que quem estava sendo perseguido era o próprio Jesus (At.9:5). Em Sua oração ao Pai Jesus afirma que assim como o Filho e o Pai são unidos, a humanidade e Jesus também são um (Jo. 17). Por essa razão Jesus ensinou que quando um pobre é ajudado Ele mesmo é ajudado (Mat 25:40).

Sobre a relação entre o santuário celestial e a terra há outra dimensão cujo o “chifre pequeno” pode atacar o santuário e as hostes em Dan 8. Visto que a linguagem desse capítulo é tomada dos rituais do santuário, principalmente do dia da expiação (Lev 16), uma examinada nesse ritual nos ensina outra faceta do ataque satânico. De acordo com Lev 20:3 e Num 19:13, 20, há duas formas na qual o santuário era contaminado, a idolatria e contaminação com cadáveres não purificada. Caso os envolvidos não se arrependesem e ignorassem a salvação do Senhor eles sofreriam julgamento divino pois haviam rejeitado o próprio Deus.

Assim, ao ignorar a salvação divina no santuário (serviços diário) e ao estabelecer abominação da idolatria o “chifre pequeno” polui a morada de Deus. Isso é demonstrado no livro de Ezequiel quando Judá poluiu a habitação divina em Jerusalém por meio de contaminação do cadáveres, imoralidade sexual e idolatria (Ez 10-20). Tais ações fizeram com que a glória de Deus (Sua presença) deixasse o templo que foi contaminado. A consequência física foi a destruição de Jerusalém e do templo pelos Babilônicos.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Qual o significado da mudança de gênero em Hebraico em referência “chifre pequeno” e seus referentes em Dan 8:9-12 para identificação desse poder na história?


É verdade que há uma mudança de gênero (feminino e masculino) nos v.9-12 nos vocábulos referentes ao chifre pequeno. Em hebraico verbos, substantivos, adjetivos e pronomes possuem gênero. Por exemplo, se um verbo possuir terminação feminina ele concorda com o sujeito feminino mais próximo, o que não ocorre em português visto que o verbo não tem gênero. Vamos identificar então os gêneros nos versos 9-12.

v.9 – YATZAR – verbo masculino “sair, ir”; QEREN – substantivo feminino “chifre; VATIGDAL – verbo femino “crescer”
v.10 - VATIGDAL – verbo femino “crescer”; VATAPEL – verbo feminino “cair”; VATIRMESEM – verbo feminino “pisar”
v.11 – HIGDIL – verbo masculino “crescer”;  VeHOSHLAQ – verbo masculino “ser atirado”; [HURAN – verbo masculino “ser exaltado”]
v.12 – TINATEN – verbo feminino “foi dado”; VeTASHLECH – verbo feminino “jogado, lançado”; Ve’AShTAh – verbo feminino “fazer”; VehITZELIHAh – verbo feminino “prosperar”

O v.9 começa com um substantivo plural masculino junto de um verbo masculino e finaliza com substantivo feminino e um verbo no feminino. No v.10 há 3 verbos femininos e no v.11 há 3 masculinos. No v.12 são 4 verbos no feminino. Há aqueles que argumentam que a mudança de gênero ajuda identificar diferentes agentes na visão, mas como isso determina quais são esses agentes ainda continua em debate.

Muitas propostas foram feitas no Adventismo. Por exemplo, o “exército” no v.10 age no feminino enquanto o “exército” no v.11 age no masculino o que também identifica um novo poder na visão. E no v.12 a ação volta para o feminino. O que todos os intérpretes Adventistas aparentemente concordam é que a mudança do gênero marca uma transição de poder, nesse caso o texto indica uma mudança de poder dentro do império Romano.

Um dos intérpretes, Jown Peters, argumentam que o quiasmo (estrutura literária) e gênero dos verbos e substantivos identificam diferença de poder nos v.10à12 e v.9à11. Enquanto Martin Proebstle argumenta que a identificação é v.9a-11 e v.9b-10 ignorando o v.12. Gehard Hasel e William Shea também encontraram uma estrutura literária e divisão histórica do texto diferente nesses 4 textos. Ambos argumentam que a mudança de gênero identificam Roma papal e pagã.

Como essa identificação histórica deve deve ser feita a partir de gêneros textuais ainda é dificíl determinar. Portanto, a importância do gênero no texto não deve ser levada ao ponto de fundamental importância para interpretação profética. Parece que essa análise sintática do texto profético parece não resolver o problema de identificar dois poderes distintos do chifre em Daniel 8 até que fatos históricos sejam relacionados com a interpretação do texto.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Atacando o santuário e os santos - parte 2


À luz do ataque satânico ao santuário e aos santos na história da Igreja Romana, note quão relevante é Lev 19 nesse contexto profético. Em textos anteriores eu esbocei esse capítulo sobre santidade da seguinte forma:

  1)     Não adorar ídolos (v.4)
  2)     Em negócios pessoais nunca maltratar (v.9-10)
  3)     Não maltratar os oprimidos e estrangeiros, mas ajudá-los (v.9-10, 13-14, 33, 34)
  4)     Falar sempre a verdade e praticar a justiça (v.11, 15-16)
  5)     Comer aquilo que é adequado à saúde (v.23-26)
  6)     Manter pureza sexual e mental (v.17,29)
  7)     Não se envolver com espiritismo ou fazer contato com os mortos (v.26, 28, 31). 
  8)     Guardar o sábado e reverenciar o santuário (v.30)

Visto que o ataque de Satanás é na santidade (santos, lei, Deus e santuário), tal texto de Levíticos é importante ser considerado à luz da história do papado. Vejamos um por um. Com a reinterpretação bíblica ao olhar da filosofia grega, o Catolicismo aprovou a adoração de mortos (#1,#7). Por meio da noção errada do corpo humano, ela abriu as portas à promiscuidade sexual e à alimentação imprópria (#5,#6). Ao unir-se ao estado, a Igreja tornou-se um negócio que perseguia os que atrapalhavam seus interesses (#2, #3). Com a elevação do papa como único representante de Deus na terra, ela propagou mentiras sem fim (principalmente com o documento forjado da doação de Constatino – futuramente no blog), cometendo as maiores injustiças que o mundo já viu (#4). Em seu período de dominação, a Igreja Romana foi contra os judeus e eliminou o sábado, trocando-o pelo domingo como dia santo de adoração (#8).

Note que tais transgressões não são pequenas, mas formadoras do cristianismo vigente. Tenha como exemplo o conceito da imortalidade da alma ligado à alimentação e espiritismo, assim como a guarda do domingo como santo. A maioria dos cristãos acha que é correto e bíblico a guarda do domingo, a crença no evolucionismo teísta, a comunicação com os “mortos-vivos”, manter relações sexuais fora do casamento é normal, e que a alimentação não influencia no relacionamento com Deus (consomem carne, álcool, fumo, muita gordura e sangue).

Nesses “detalhes” Satanás mina a relação de Deus com o homem, e por meio do engano remove milhares de pessoas da salvação oferecida por Cristo. É por isso que estudar profecias é tão importante. Ao identificar os poderes por trás das grandes estruturas socio-religiosas no grande conflito podemos tomar decisões sábias e informadas pelas Escrituras. Somente assim poderemos resistir à Babilônia, restaurar a verdade jogada por terra e nos unir aos santos que serão libertos por Cristo quando Ele retornar.

O grande exemplo é o sábado. A restauração da santificação do sétimo dia faz com que construamos uma antropologia e ontologia bíblica. A referência à criação do Gênesis elimina o evolucionismo, a guarda do domingo, a imortalidade da alma, a impureza sexual, e a salvação pela graça por meio da obediência a Cristo. É por isso que Deus levantou um movimento nos últimos dias, que nos lembra do sábado como veículo de restaurar verdades outrora apagadas pelo chifre satânico.

Muitos outros aspectos da verdade foram deturpados pelo chifre satânico, mas sobre eles escreveremos mais tarde. No próximo post voltarei às questões textuais sobre a interpretação do livro de Daniel.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Atacando o santuário e os santos


No texto anterior descrevi como ideologicamente Satanás minou o conceito de realidade descrita pela Bíblia. Assim, o que Deus havia revelado era um mito a ser reinterpretado à luz do dualismo Platônico, onde o mundo natural é irreal e a realidade divina é imutável. A criação não foi progressiva em 7 dias literais, mas em um grande momento onde as ideias divinas se materializaram num instante. Os seres humanos são compostos por uma essência imortal divina coberta por um corpo mutável físico. Nesse texto esboço como na prática isso modificou o Cristianismo verdadeiro. Como é um esboço, explico tais enganos em generalizações e em linha história resumida.

Visto que o físico é ruim, e o não material, bom, nesse esquema ontológico, o relacionamento sexual descrito na Bíblia como positivo e divino é descrito como um mal necessário. Mal porque sexo é carnal e o corpo/material é ruim e mutável/mortal. Necessário porque as almas (ou partículas divinas) colocadas em Adão devem ser liberadas por meio da tal relação (do sperma - semente). Essa antropologia cria uma superioridade entre o homem e a mulher, e entre o celibatário e o casado. Tais ensinos são extremamente nocivos e não bíblicos.

Apesar da Igreja Romana ensinar tais conceitos, seus próprios líderes não praticavam. Durante a Idade Média vários cleros casaram. Os que obedeciam à Igreja na aparência tinham concubinas e filhos bastardos. Em Roma a imoralidade era tamanha que, por volta do ano 1200, a cidade de Roma era conhecida como o maior prostíbulo do mundo. Tal deturpação antropológica minou a pureza sexual e o núcleo familiar instituído por Deus para proteger a humanidade. Ainda hoje sofremos as consequências de tais enganos Satânicos. Não é à toa que Deus descreve a igreja Romana ao profeta João como uma prostituta e mãe de meretrizes. (Apoc 17 e 18)

Assim como a imoralidade sexual é associada à idolatria no Antigo Testamento, também no “cristianismo papal”. Visto que a alma é imortal e o físico, pecaminoso, a mortificação do corpo era algo necessário à salvação. Como o culto a Baal descrito no Carmelo, a penitência foi glorificada como meio de salvação. Os que morriam pela fé em Cristo e mortificavams seus corpos eram considerados semi-divinos. Daí criaram-se os santos, que servem como ídolos intercessores, usando seus méritos para ajudar na salvação de almas ainda não liberadas desse corpo mal.

Desta forma Satanás ataca eficazmente o santuário e os santos. Destrói o santuário de duas maneiras. A primeira, de acordo com a Bíblia, o nosso corpo é o templo do Espírito Santo e feito para pureza (I Cor 3:16,17; 6:19,20). Ao ensinar que o importante é o imaterial e que o casamento é um mal necessário, o Catolicismo abre portas à imoralidade, e à promiscuidade fora do relacionamento conjugal. Segunda, ao promover a mortificação do corpo e mérito de esforços humanos no culto aos santos, o sistema de salvação real no santuário celestial é negado. Ao invés de Jesus como nosso único intercessor e Salvador, temos Maria e sua hoste de Santos imortais. A veneração dos mortos é gigante nesse esquema religioso. Prática tal que é abominável aos olhos do Senhor da Bíblia (Deut?? Is ??) – continuação no próximo texto...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A importância da interpretação profética - parte 2



No texto anterior refletimos sobre o papel da profecia apocalíptica no grande conflito. Identificar o chifre (os agentes humanos usados por Satanás) é uma questão de identidade e salvação. Na visão de Daniel esse inimigo divino atacaria os tempos, as leis e a verdade. Ou seja, ele mudaria o conceito de realidade a fim de enganar o mundo. Como Roma foi usada por Satanás para ”modificar” a realidade?

Por meio de Roma (pagã e papal), Satanás populariza o dualismo ontológico grego-platônico que reinterpreta a realidade descrita na Bíblia. Ele joga a verdade e o santuário por terra. Tendo como premissa que mudança é ruim e que Deus existe, os Platônicos formularam sua descrição da realidade. De acordo com essa interpretação da realidade (cosmovisão) existem duas esferas de existência, uma divina e a outra humana, não conectadas objetivamente. O mundo divino é atemporal (sem mudança ou movimento). Em contrapartida, o mundo terrestre é temporal, ou seja, que muda, tornando-o aparente e irreal em si, visto que ele é uma reflexão do mundo divino.

Essa divisão do temporal com o atemporal afeta todos os aspectos da realidade formada por espaço e tempo. Misturando os conceitos Platônicos com a descrição ontológica da Bíblia, os pais da Igreja (cristãos do século I-V) formularam uma cosmologia bem distinta, reinterpretando as categorias bíblicas à luz de uma cosmologia pagã (satânica). O cristianismo resultante, que formou o que conhecemos como Ocidente, é um paganismo com nomenclatura cristã.

Note, nesse esquema dualista Deus não pode criar pois criação requer movimento e mudança, o que é ruim, pecaminoso. Tomás de Aquino, patrono da teologia Católica, ao tentar resolver esse problema explica que em Deus todos existimos. À luz de Platão a cosmologia Católica (Aquina) afirma que os seres humanos são almas eternas “geradas” desde a eternidade em Deus e colocadas em Adão. Aqui o chifre satânico ataca a verdade divina na raíz. Agora o homem é imortal como Deus, e é parte de Deus. Isso redefine pecado, salvação e santuário.

Ao aceitar a ideia de que Deus não se relaciona com o tempo e espaço em mudança, toda Escritura é reinterpretada. Vejamos o que considero as principais. Visto que principalmente no Antigo Testamento Deus cria, age, toca, e sente, a teologia Católica alegoriza tais conceitos. O Antigo Testamento, ou o livro Israelita, é rejeitado como revelação divina da realidade. Suas leis, histórias e conceitos não podem ser lidos de forma concreta pois são descritos numa linguagem demasiadamente carnal.

Essa ideia de que Deus não se relaciona com o tempo é a semente para a rejeição do Sábado, da criação literal em 7 dias, da doutrina da expiação do Santuário celestial, das profecias de tempo sobre o Messias, da mortalidade condicional da alma, da pureza sexual e da correta adoração a Deus (sobre esses detalhes na história refletiremos no próximo texto). Os profetas Daniel e João, em suas visões acerca do chifre satânico, uniram todos esses elementos no grande conflito apresentado a eles.