No texto anterior refletimos sobre o papel da profecia apocalíptica no
grande conflito. Identificar o chifre (os agentes humanos usados por Satanás) é
uma questão de identidade e salvação. Na visão de Daniel esse inimigo divino
atacaria os tempos, as leis e a verdade. Ou seja, ele mudaria o conceito de realidade a fim de enganar o mundo. Como
Roma foi usada por Satanás para ”modificar” a realidade?
Por meio de Roma (pagã e papal), Satanás
populariza o dualismo ontológico grego-platônico que reinterpreta a realidade
descrita na Bíblia. Ele joga a verdade e o santuário por terra. Tendo como
premissa que mudança é ruim e que Deus existe, os Platônicos formularam sua
descrição da realidade. De acordo com essa interpretação da realidade
(cosmovisão) existem duas esferas de existência, uma divina e a outra humana, não
conectadas objetivamente. O mundo divino
é atemporal (sem mudança ou movimento). Em contrapartida, o mundo terrestre é
temporal, ou seja, que muda, tornando-o aparente e irreal em si, visto que ele
é uma reflexão do mundo divino.
Essa divisão do temporal com o atemporal afeta todos os aspectos da
realidade formada por espaço e tempo. Misturando os conceitos Platônicos com a
descrição ontológica da Bíblia, os pais da Igreja (cristãos do século I-V)
formularam uma cosmologia bem distinta, reinterpretando as categorias bíblicas
à luz de uma cosmologia pagã (satânica). O cristianismo resultante, que formou
o que conhecemos como Ocidente, é um paganismo com nomenclatura cristã.
Note, nesse esquema dualista Deus
não pode criar pois criação requer movimento e mudança, o que é ruim,
pecaminoso. Tomás de Aquino, patrono da teologia Católica, ao tentar
resolver esse problema explica que em Deus todos existimos. À luz de Platão a
cosmologia Católica (Aquina) afirma que os seres humanos são almas eternas
“geradas” desde a eternidade em Deus e colocadas em Adão. Aqui o chifre
satânico ataca a verdade divina na raíz. Agora o homem é imortal como Deus, e é
parte de Deus. Isso redefine pecado, salvação e santuário.
Ao aceitar a ideia de que Deus
não se relaciona com o tempo e espaço em mudança, toda Escritura é
reinterpretada. Vejamos o que considero as principais. Visto que principalmente no Antigo
Testamento Deus cria, age, toca, e sente, a teologia Católica alegoriza tais
conceitos. O Antigo Testamento, ou o livro Israelita, é rejeitado como
revelação divina da realidade. Suas leis, histórias e conceitos não podem ser
lidos de forma concreta pois são descritos numa linguagem demasiadamente carnal.
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