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sábado, 22 de junho de 2013

Quem é o “príncipe que há de vir” e qual diferença faz em como interpretá-lo? (Dan 9:26)

Já vimos que em Israel reis, profetas e sacerdotes eram ungidos, e Jesus também foi de acordo com o NT cumprindo a função dos três. No Adventismo há pelo menos duas interpretações acerca do “príncipe”. Uma linha (e.g.William Shea) interpreta o príncipe como Jesus nos versos 25 - mashiah nagid (príncipe ungido) e 26 – mashiah (ungido). Consequentemente ‘am nagid haba’ (povo do príncipe a vir) é identificado como sendo os Judeus no tempo de Jesus Cristo.

Enquanto isso, Roy Gane  interpreta o nagid (príncipe) do v.26 como  Tito, o general/imperador Romano. Esse líder pagão “viria” (haba’) para “destruir a cidade e o santuário”. Assim o ‘am nagid haba’ (povo do príncipe a vir) deve ser os Romanos. Para Gane o ungido do v.25 não é o mesmo do v.26. Como Shea, Gane também interpreta v.25 como Jesus Cristo.

A diferença nas interpretações é o ponto de conexão do v.26. Enquanto Shea enfatiza a conexão do nagid com o verso anterior, Gane enxerga uma maior conexão com a destruição descrita no verso a ser executada por esse nagid. Que Jerusalém foi destruida pelos Romanos em 70AD não é questionado. As implicações são as seguintes: para Shea a destruição da cidade e do Santuário são resultados dos pecados de Israel; para Gane o focus da destruição é removido dos Judeus para os Romanos.

Em Daniel 10 forças espirituais que influenciam os reis pagãos são descritos como príncipes, mas nesse capítulo a palavra sar e não nagid é usada (Dan 10:13, 20). Essa mesma palavra também qualifica Jesus. Ele é identificado como hasarim ha rishonim (o principal/primeiro dos príncipes – v.13). Portanto, em Daniel a terminologia de “príncipe” pode ser tanto um poder divino ou contra Deus.

O interessante é que em Daniel 10 os “príncipes” são seres espirituais – não criaturas humanas (Jesus ou demônios). Se isso for aplicado a Daniel 9 a interpretação do nagid como Tito deve ser revista. Outra ideia que sugere a coerência argumentativa de Shea é Dan 11:22, onde a expressão nagid berit (príncipe da aliança) é usada, e eles concordam que nesse caso o texto fala de Jesus Cristo.

Não ignoremos porém o argumento de Gane acerca de Dan 9:25-27. Ele enxerga um paralelismo ABABAB onde a primeira parte (A) descreve atividade de Jesus e a segunda (B) a destruição. Isso significa que o príncipe deve ser colocado na seção B com a destruição separada das atividade Messianicas. Para ele isso é coerente com o esquema das visões em Daniel 7 e 8 onde o poder assolador (que destrói) é sempre o inimigo de Deus (chifre que começa pequeno) representado por Roma que persegue Jesus e Seu povo. Assim, Tito como o principe dos Romanos se encaixa perfeitamente nesse esquema.

sábado, 8 de junho de 2013

Por que as 7 semanas foram destacadas das 70? Qual o significado desse período e seu cumprimento? (Dan 9:25)


O texto das 70 semanas tem uma forma poética em Hebraico o que pode sugerir apenas uma forma alternativa literária de expressar tempo. A forma de tempo usada pelo anjo é diferente e única. William Shea acha, no entanto, que há um significado histórico-profético nessa semana. Ele relaciona a primeira semana com a ideia final do verso – o “tempo de angústia” quando Jerusalem foi reconstruída (Esd 4 e Neemias). Mas mesmo o Shea reconhece que não há dados históricos para determinar tal evento.

Roy Gane no entanto acha que não devemos enxergar algo histórico (visto que não temos comprovação histórica). Ele sugere que a separação das semanas faz uso da linguagem do Jubileu (Lev 25). O ciclo de 7 semanas é um Jubileu (49/50 anos). Daniel 9 tem um Jubileu multiplicado por 10 (490 = 70x7 ou 49x10) o que indicaria sua maior importância. Gane sugere que a importância é sua aplicação para toda a nação de Israel ao invés de indivíduos em Israel. Se eu entendi corretamente sua explicação creio haver problemas nessa aplicação a Israel, mas sua ideia geral de interpretação soa coerente.


Não podemos ignorar que tal explicação (Gane) não anula a possibilidade de um cumprimento histórico como o Shea sugere. Falta de evidência histórica não dever ser motivo para ignorar tal interpretação. Haja vista a última semana que se refere a cruficixão de Jesus e o apedrejamento de Estêvão, datas ainda hoje debatidas e com pouca (ou nenhuma) documentação precisa.  A lógica é que o anjo está dando já a chave de interpretação de como interpretar a profecia. Assim, não dependemos de algo que talvez nunca tenha acontecido em 408 AC.

sábado, 1 de junho de 2013

Quando o decreto para restaurar e reconstruir Jerusalem ocorreu? Quem decretou? A profecia refere-se ao tempo que o decreto foi ordenado ou cumprido?


Em Dan 9:25 o anjo diz que ao motza’ dabar (Heb. “sair a palavra”, “for decretado”) as 70 semanas começariam. Motza’ vem provavelmente do verbo ytzr (Heb. “come out, go”). Se ele for conectado com a pergunta de tempo (ad matay – até quando?) em Dan 8:13 a expressão indica a relação entre as 2300 tardes e manhã e as 70 semanas. Desmond Ford sugeriu que lhshyb (Heb. “voltar, trazer de volta”) se refere ao retorno dos Judeus de Babilônia descrito no cilindro de Ciro o rei persa, cerca do ano 520 AC (Esdras 1).

Esdras 6:14 parece interpretar Daniel 9 diferentemente e mais tarde. Roy Gane argumenta contra Ford e sugere que a expressão lhshyb vlbnt (Heb. “trazer de volta e reconstruir”) tem como objeto direto Jerusalém. Em sua pesquisa sobre a forma verbal hifil de shb (Heb. “retornar”) ele descobriu que esse verbo é usado em contexto de restauração política, o que o decreto de Ciro não ordena, visto que Jerusalem continuou como cidade dependente da Medo-Persia. Assim ele sugere que apenas o decreto de Esdras 7 se encaixa na intenção de Dan 9:25.

De acordo com essa interpretação Esd 6:14 descreve o decreto que restaura Jerusalem começando com Ciro mas que finalmente foi implementado com Artarxerxes I (Longimanus). Esse decreto é descrito em Esd 7 e sugere uma restauração política de Jerusalem mais plena como contempla Dan 9:25. O argumento de Gane é que o significado de motza’ é semelhante ao de dabar ytzr em Est 1:19, 3:15 e 7:8 que descreve um processo e não apenas um dia específico. Então para ele o “dia do decreto” é quando ele foi implementado, ou seu período final, o que no caso do decreto de Artarxerxes é Esd 6:14. Esse mesmo texto diz que o decreto procede de Deus e não apenas de Artarxerxes.

Se a resposta de Gane for adotada vemos que profecias de tempo em Daniel precisam datas (especificam um tempo) apenas ao sugerir um período ou processo histórico mais longo. Por exemplo, nos períodos de 1260 e 1290 dias-anos interpretado pelos Adventistas como aplicando a relação igreja-estado do império romano na época de Justiniano. Um de seus decretos foi “promulgado” em 533AD mas apenas implementado ou posto em prática em 538AD. E Clovis se “converteu” em 501AD mas apenas em 508AD ele foi batizado  e removeu os inimigos “hereges” apenas anos depois. Assim, qual data usar para determinar o início desses períodos proféticos?

Minha impressão é que as profecias apocalípticas indicam eventos precisos como demarcadores de processos históricos mais importantes que é o objetivo da profecia. Assim como no estudo da história marcamos períodos e transições com datas precisas mas isso não sugere que uma era acabou e outra começou de um dia para o outro (e.g. Idade Media à Modernidade à Pós-modernidade). Assim também nesses grande períodos proféticos. E acho que essa maneira de interpretação profética historicista deveria ser aplicada na interpretação do tamid.