Em Dan 9:25 o anjo diz que ao motza’ dabar (Heb. “sair a palavra”,
“for decretado”) as 70 semanas começariam. Motza’ vem provavelmente do verbo ytzr
(Heb. “come out, go”). Se ele for conectado com a pergunta de tempo (ad
matay – até quando?) em Dan 8:13 a expressão indica a relação entre as 2300 tardes e
manhã e as 70 semanas. Desmond Ford sugeriu que lhshyb (Heb. “voltar,
trazer de volta”) se refere ao retorno dos Judeus de Babilônia descrito no
cilindro de Ciro o rei persa, cerca do ano 520 AC (Esdras 1).
Esdras 6:14 parece interpretar Daniel 9 diferentemente e mais tarde. Roy Gane
argumenta contra Ford e sugere que a expressão lhshyb vlbnt (Heb.
“trazer de volta e reconstruir”) tem como objeto direto Jerusalém. Em sua
pesquisa sobre a forma verbal hifil de shb (Heb. “retornar”) ele
descobriu que esse verbo é usado em contexto de restauração política, o que o
decreto de Ciro não ordena, visto que Jerusalem continuou como cidade
dependente da Medo-Persia. Assim ele sugere que apenas o decreto de Esdras 7 se
encaixa na intenção de Dan 9:25.
De acordo com essa interpretação Esd 6:14 descreve o decreto que restaura
Jerusalem começando com Ciro mas que finalmente foi implementado com
Artarxerxes I (Longimanus). Esse decreto é descrito em Esd 7 e sugere uma
restauração política de Jerusalem mais plena como contempla Dan 9:25. O
argumento de Gane é que o significado de motza’ é semelhante ao de dabar
ytzr em Est 1:19, 3:15 e 7:8 que descreve um processo e não apenas um dia
específico. Então para ele o “dia do decreto” é quando ele foi implementado, ou
seu período final, o que no caso do decreto de Artarxerxes é Esd 6:14. Esse mesmo
texto diz que o decreto procede de Deus e não apenas de Artarxerxes.
Se a resposta de Gane for adotada vemos que profecias de tempo em Daniel
precisam datas (especificam um tempo) apenas ao sugerir um período ou processo histórico mais longo.
Por exemplo, nos períodos de 1260 e 1290 dias-anos interpretado pelos
Adventistas como aplicando a relação igreja-estado do império romano na
época de Justiniano. Um de seus decretos foi “promulgado” em 533AD mas apenas
implementado ou posto em prática em 538AD. E Clovis se “converteu” em 501AD mas
apenas em 508AD ele foi batizado e
removeu os inimigos “hereges” apenas anos depois. Assim, qual data usar para
determinar o início desses períodos proféticos?
Minha impressão é que as profecias apocalípticas indicam eventos precisos
como demarcadores de processos históricos mais importantes que é o objetivo da
profecia. Assim como no estudo da história marcamos períodos e transições com
datas precisas mas isso não sugere que uma era acabou e outra começou de um dia
para o outro (e.g. Idade Media à Modernidade à Pós-modernidade). Assim também nesses grande períodos
proféticos. E acho que essa maneira de interpretação profética historicista
deveria ser aplicada na interpretação do tamid.
Nenhum comentário:
Postar um comentário