NOTA DE ESCLARECIMENTO: Escrevi esse artigo para a ABJ notícias no ano passado no período da páscoa.
Gostaria de falar da paz, fraternidade, companheirismo. Todos através do sofrimento de um homem, não de uma menina. Aliás, foi a semana comemorativa da morte de Jesus. Mas em meio a barbárie como a de Grazi e as gangues escolares, tive que mudar de idéia. Pois acho que seria loucura falar de alguém que amou. Amor é coisa do passado. E acho que cristianismo também.
Era uma manhã normal de segunda, na escola estadual Guiomar Rocha Rinaldi, da zona oeste de São Paulo. Mais uma briga de alunos, como sempre ocorria. Mas agora entre meninas. Garotas de 16 anos. Uma era a turma da beleza, a outra a turminha “feia”. Os apelidos eram Fiona (namorada do Shrek), Tiffany (namorada do Chucky) e por aí vai.
Tatiene, apelidade de Tiffany, do quarteto da beleza, teve sua mãe educadamente chamada de vagabunda. Palavra comum dos pancadões funks da região. Silvana, a autora da frase, havia perdido sua mãe de câncer no Paraná e morava com sua irmã e namorado. Além disso, era mal-tratada na escola com apelidos pejorativos. Após os tapas e arranhões costumeiros, Silvana fura a mão de Tatiane com um compasso. Irada, ela pega um pedaço de beliche que estava na rua, e começa a espancar sua colega de sala. “Fui arrepiando o pau nela”, pau que quebrou várias vezes nesse processo.
Dias depois, sem perdão, coisa de cristão, Silvana traz em sua garrafa de água R$0,80 de gasolina. Após trocas de olhares inflamados dentro da sala, a tocha acende em Grazielli. Pais separados, tornada loira desde 3 anos pela mãe cabeleireira, tinha sua beleza como alto padrão. E agora para proteger o nome do quarteto da beleza compra à briga de sua amiga Tatiane.
“Bate na cara dela, bate na cara da vagabunda, não vai arregar pra ela, Grazi.” Era a motivação dos adolescentes que colocavam lenha na fogueira. Após a briga fora da escola, Silvana joga a gasolina em Grazi e ateia com um isqueiro. Tatiane está na Febem feminina e Grazi sofre na UTI do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Os diretores se eximiram da responsabilidade pois, o acidente foi fora da escola. A mãe de Rosa, a última do quarteto fantástico, avaliando o caso disse: “Se essa menina (Silvana) tem problemas, deviam ter chamado os parentes dela; não tem que ficar num colégio onde só tem criança normal.” Crianças normais! Um caramba! Se isso é normal, eu estou louco.
Eu que pensava que o normal era ter na escola um ambiente de integração social, de aulas amistosas, de companherismo. Onde a beleza exterior não importasse tanto. Alunos e professores motivando e ajudando-se dentro e fora de sala de aula. Mas acho que tudo isso é uma loucura.
Ter um linguajar, puro, adequado, decente, é fora de moda. Acho que é loucura pensar em assistência psicológica para adolescentes que perderam a mãe e saíram de casa. É estranho falar de família com pai, mãe e filhos. Agora é pai, pai, ou mãe, mãe e talvez um filho, de outro. É “filosófico”, “utópico” acreditar que um compasso deve ser usado para estudar matemática, e construir um mundo melhor.
Que um pedaço de madeira deve ser usado para construir camas para desabrigados, e a gasolina deve ser usado em carros. É loucura. O normal e ver tocha humana, arrepiar o pau nela...E isso não acontece apenas em periferias. Na Universidade de Bloemfontein na África do Sul brancos urinam em prato de comida de negros. E a definição para essa normalidade é trote fora do controle.
Se continuar do jeito que tá, onde a violento Bope é usado como exemplo empresarial, o linguajar funk é comprimento educado, onde professores e pais não se envolvem com seus meninos, vou ter que me internar num hospício para cristão. Pois lembrei das palavras de Paulo, que dizia que a mensagem da Bíblia era loucura para os que não aceitam. Mas acho que eu que estou ficando louco.
“Pois a mensagem da cruz é loucura” I Coríntios 1:18
*Nomes foram mudados, menos o da Grazielli