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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Como interpretar tempo em profecia - parte 2


Um dos argumentos do historicismo é que o próprio livro de Daniel sugere essa interpretação. O autor de Daniel usa duas palavras para descrever tempo. Em todo o livro quando descreve sua posição no tempo e espaço ele usa o termo comum em hebraico/aramaico - shana/shena (ano, e.g.1:1, 2:1, 7:1, 8:1, 9:1, 11:1). Na tradução judaica grega (LXX – septuaginta) essa palavra é traduzida por etos, a expressão comum para um ano cíclico das estações.

Porém, quando o conteúdo transcede a realidade do profeta em visão ou sonho, esse vocábulo não é mais usado. Tempo simbólico nunca é shana/shena. Expressões não usuais são escolhidas para descrever o tempo apocalíptico, como “tardes-manhãs”, “dias”, “tempo(s)” com números grandes, ao invés de usar “anos” (shana/shena).

Em Daniel 7 é usada a palavra yidan, que descreve em aramaico uma porção de tempo definida ou não (e.g. Dan 2:8, 7:12) ou uma circunstância (2:9,21). Note que no capítulo 4 esse vocábulo descreve um tempo literal e real, quando o rei Nabucodonossor permanece 7 yidanin (tempos – 4:16, 23, 25, 32) como um animal.

No final do capítulo yidan é substituído por yom, comumente traduzido como dia como em Gênesis 1. Mas yom possui uma abrangência semântica maior que um ciclo diário. Por exemplo, Deus é descrito no capítulo 7 como o Ancião de DIAS (yomim – v.9, 13, 22). Assim, o contexto deve determinar qual a melhor descrição de tempo expressada por yidan e yom. Que elas no capítulo 4 devem ser entendidas por anos literais os judeus que traduziram a Septuaginta (LXX-AT em grego) atestam ao usarem etwn ho chronos (4:34). Eles usam duas palavras que enfatizam o ciclo anual cronológico.

Essa permutação de um dia para ano onde yom é usado para os dois não é novidade de literatura apocalíptica. Note esse texto de I Sam 27:7: “E o número dos dias (plural–yamim) que Davi habitou na terra dos filisteus foi de um ano (yamim) e quatro meses.” Em Levíticos 25:29 yom é paralelo a shana. Portanto não é estranho o termo comum para dia também expressar um tempo maior como ano.

O segundo argumento ainda mais relevante é o recurso da miniaturalização profética. (ver Alberto R. Timm. Miniature symbolization and the year-day principle of prophetic interpretation. Andrews University Seminary Studies vol.42, n.1, p.149-167.- http://www.auss.info/auss_publication_file.php?pub_id=1072&journal=1&type=pdf,  esse princípio é demonstrado primeiramente em Números 14 e secundariamente em Ezequiel 4. Em ambos os capítulos indivíduos REPRESENTAM um grupo maior de pessoas e consequentemente um tempo menor SIMBOLIZA uma realidade maior. Em Números, doze espias representam as 12 tribos de Israel. Em Ezequiel o profeta representa toda a nação dos judeus. O tempo vivenciados pela ser menor (12 espias e profeta Ezequiel) é trasposto à entidade maior (12 tribos ou Israel).

Essa dinâmica é característica de profecia apocalíptica. Visto que Deus descreve ao profeta uma realidade além da do profeta Ele usa símbolos que miniaturalizam realidades maiores. Assim como uma bandeira representa um país inteiro. Em Daniel animais ou metais representam nações/poderes. Um leão alado ou uma cabeça de ouro, por exemplo, representam Babilônia.

Dessa maneira a profecia conta uma grande história de uma maneira abreviada. Logicamente a miniaturalização se aplica ao tempo profético. Em Daniel 7 e 8 não só os animais são “estranhos” mas a descrição de tempo também. Não se usa corriqueiramente “2300 tardes-manhãs” como em Dan 8:14 para descrever um período de um pouco mais que 6 anos. Nem “tempo, tempos e metade de um tempo” (7:25). Essas são algumas evidências textuais que clamam para uma interpretação simbólica do elemento de tempo na profecia apocalíptica.

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