2) Será que Antioco IV Epifânio cumpre os requerimentos textuais e históricos
cumprindo o simbolo profetico do chifre “pequeno” em Daniel 8?
Primeiramente para verificar a confirmação de um evento profético é
necessário considerar como interpretar às profecias de Daniel. Como visto na
questão anterior os capítulos 2, 7 e 8 de Daniel sugerem uma
interpretação historicista. Isso quer dizer que os seus símbolos descrevem
eventos do tempo do profeta até o tempo do fim em sequencia. É importante notar
que esses capitulos estão em paralelismo e de maneira a recapitular e avançar a
profecia anterior (proximo post – mais informação sobre metodologia profetica
escatologica).
Vimos que Daniel 2 claramente identifica os metais como reinos em sucessão
a partir de Babilônia (v.38,39). Semelhantemente o capítulo 7 possui a mesma
sequência de 4 reinos sucessivos + 1 reino distinto + Reino de Deus no fim. Em
Dan 8 há uma mesma sequência de reinos até o fim (v.17,19). Um deles é
interpretado no próprio livro como Media e Persia (v.20), e o poder que o segue
como Grécia (v.21). Esses são marcadores textuais que sugerem fortemente que
todas essas profecias representam/simbolizam poderem hist[oricos desde o tempo do
profeta até o tempo do fim.
Esse paralelismo temático finalizando com um juízo divino aos reinos nos
são de grande valia para determinar qual poder representa o chifre “pequeno” em
Daniel 8. Note que há um chifre pequeno em Daniel 7 que termina com um
julgamento divino. Paralelamente no capítulo 8 o anjo afirma que a visão vai
até o fim (v.17,19) com a purificação do santuário, o que é o juízo no capítulo
anterior. Considerando esses dados, como pode o “fim” e “juízo” terem ocorrido
no tempo de Antíoco IV Epifânio no II século A.C.?
A probabilidade é mínima. Os profetas do Antigo Testamento prefiguravam uma
escatologia (últimos dias) onde Deus estabeleceria o Seu reino em Israel para
sempre. Isso definitavamente não ocorreu no tempo de Antioco IV. Apesar de o
livro de Macabeus tentar interpretar Daniel como cumprindo nesse período,
Antioco não chegou ao “fim” nem o reino de Deus foi estabelecido com a
purificação do santuário e a expulsão desse rei.
Jesus também nega essa interpretação pois Ele prometeu estabelecer o eterno
reino de Deus prefigurado no Antigo Testamento ainda no futuro, séculos depois
de Antíoco. Ainda mais, Cristo em Seu sermão escatológico afirma que a
abominação desoladora de Daniel 9 aconteceria ainda no futuro de seus dias na
terra com os discípulos. Visto que a abominação desoladora é causada pelo
chifre pequeno, o que todas as escolas (preteristas, futuristas e
historicistas) reconhecem, isso nega a interpretação de Antíoco como sendo tal
poder.
Outra forte evidência é relacionada ao tempo em Daniel. Em 8:14 o anjo
afirma que a purificação do santuário aconteceria após 2300 tardes-manhãs. Mesmo
se interpretado como tempo literal referentes a dias completos (tarde-manhã)
esse período não coaduna com a única descrição histórica sobre Antíoco e a
purificação do santuário encontrada nos livros de Macabeus, que totalizam
apenas 1100 dias. Tal período não bate com nenhum tempo encontrado no livro de
Daniel: 2300 (Dan 8:14), 3 ½ tempos (1260 – em Dan 7:25), 1290 (12:11) ou 1335
(12:12).
Analisando o texto de Dan 8:8-12 ainda mais, há mais evidências contra a
interpretação de Antíocos. É inegável que o poder descrito no v.8 é referente a
Grécia visto que o anjo assim o interpreta (v.21). A questão interpretativa
está relacionada ao v.9: “de um deles” vem o chifre pequeno. O pronome “deles”
se refe a qual objeto antecedente? O mais óbvio e imediato são os quatro ventos
dos céus (v.8). Embora esteja implícito devemos notar que não há menção explícita
de 4 chifres no verso 8 (note que na
tradução em Português ARA os tradutores colocaram “chifres notáveis” onde no
hebraico apenas há “quatro notáveis”).
Essa ausência pode sugerir uma mudança de assunto e que o pronome “deles”
no v.9 não se refira às divisões do império Greco, mas aos quatro ventos da
terra (compasso geográfico). Assim o esquema profético em Dan 8 estaria em
paralelo com os capítulos 2 e 7 que possuem Roma como o poder após a Grécia e
próxima ao tempo do fim. Visto que Dan 7 e 8 são bem semelhantes, pois ambos
referem-se a um chifre pequeno antes do tempo do fim, a interpretação de
Antioco deve ser questionada.
Questionada pois ela basea-se fortemente em palavras supridas por
traduções, como “sacrifício” no v.11,12,13 referente ao diário (hb. Tamid). Apesar do termo possuir
fortes ligações como atividades cúlticas do antigo Israel (santuário), o termo
sacrifício não aparece em Daniel 8 e não se limita apenas aos sacrifícios
oferecidos no culto do templo. Também pode ser argumentado que Antíoco IV
Epifânio não foi tão bem sucedido e poderoso como a profecia transcreve esse
poder representado pelo chifre pequeno. Esse chifre “tornou-se muito forte” (“engradecia
muito”), mais que o poder anterior que apena “engrandecia” (v.4). Há também um
crescendo na descrição dos poderes na visão. Historicamente no entanto não
chegou nem perto de Alexandre o Grande que o antecedeu e representa o chifre
notável do carneiro.
Mais duas evidências devem ser levadas em conta relacionadas a reação de Daniel ao final da visão e
interpretação. No final do capítulo 8 e início do 9 Daniel é descrito como
estando mui triste e extremamente
preocupado. Se a profecia fora escrita após o evento ocorrer, como
advogam os preteristas que interpretam o chifre pequeno como sendo Antíoco, não
faz sentido porque o autor (Daniel) estava triste em saber que seu povo e
templo seria “em breve” restaurado. Ele jejua e ora, ora até ficar exausto pois
parece que levaria um longo tempo para que seu povo Israel fosse restaurado e o
templo reconstruído. Daniel 9 conecta o capítulo anterior há luz do cativeiro
Babilônico e a profecia de Jeremias sobre os 70 de cativeiro (cap.19 e 25).
Todos esses dados fortalecem a interpretação historicista e não a
preterista/futurista que veementemente afirma ser Antíoco o chifre pequeno. Há
ainda mais evidências no próprio livro de Daniel que não aprovam tal
interpretação antes de Cristo. A interpretação historicista conecta
perfeitamente em detalhes na história os eventos do texto de Daniel 8 ao
contrário do malabarismo preterista em relação ao tempo principalmente. Roma
veio após a Grécia e com mais força. Tanto sua fase pagã como papal atacou o
santuário de Deus e contaminou o ministério de Cristo (Messias). Assim não fora
com Antíoco. Essas característas encaixam quando a visão cronológica
historicista do dia-ano interpreta tais eventos descritos por Daniel do seu
tempo ao tempo do fim.
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