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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Questões proféticas no livro de Daniel

      1)     Qual sistema hermenêutico o livro bíblico de Daniel favorece para sua interpretação, tendo em vista uma leitura natural e considerando sua estrutura literária e conteúdo?

É reconhecido por estudiosos da Bíblia, mesmo os adeptos do sistema hermenêutico preterista (os que interpretam o livro de Daniel como descrevendo eventos após sua ocorrência), que o livro de Daniel e seu autor afirmam está predizendo o futuro. Por exemplo, em Dan 2:7-12 e Dan 4, o autor claramente diz que sua mensagem é sobre o futuro. Daniel repetidamente demonstra que sua mensagem é de procedência divina (Revelação) e por isso deve ser considerada verdadeira e confiável. Isso quer dizer que Deus é Aquele que revela os eventos que ainda não ocorreram por ocassião do tempo do profeta Daniel.

Uma leitura, mesmo que superficial, de Daniel indica que seu conteúdo clama por uma interpretação profética do livro. Por profética eu quero dizer descritiva do “futuro” do autor. Assim, levando em conta o próprio conteúdo de Daniel apenas duas escolas de interpretação são válidas e coerentes, o futurismo e o historicismo. Ambos futurismo e historicismo lêem o livro de Daniel descrevendo em símbolos a história das ações divinas. Essas ações vão desde o tempo do autor até o tempo do fim. A maior differença entre esses sistemas interpretativos é o hiato/lacuna histórica entre o “presente” (do tempo do profeta/autor) e do “futuro” (eschaton-Reino de Deus).

Para os futuristas há um grande hiato nas profecias de Daniel. Por exemplo, para os futuristas, 69 das 70 semanas de Dan 9 se referem primariamente ao tempo de Jesus no séc I (AD). Mas a última semana (70ª) é referente ao fim dos tempos quando o anticristo virá. Eles também interpretam o chifre que começa pequeno em Dan 7 e 8, assim como alusões desse poder em Dan 11, de uma maneira dupla. Primariamente esse poder (simbolizado pelo chifre) é historicamente Antíoco Epifânio, pois é o desafiador do povo de Deus no tempo do autor de Daniel. Mas tipologicamente é o anticristo futuro.

Contráriando essa interpretação o historicismo interpreta esse chifre que começa pequeno identificando apenas uma entidade histórica. Isso também se aplica aos tempos proféticos como símbolos do futuro (do profeta). Tanto o tempo como a entidade histórica prefigurada identificam apenas um evento numa contínua linha do tempo desde o tempo do profeta/autor até o tempo do fim (eschaton-Reino de Deus).

Qual sistema hermenêutico o livro de Daniel favorece? Em Dan 2:38,39 a interpretação da estátua refere-se a reinos em sucessão histórica. Començando de Babilônia (“tu és a cabeça de ouro”) até o estabelecimento do reino de Deus sem interrupção. Semelhante a Dan 2, o capítulo 7 possui a mesma sequência de 4 reinos sucessivos + 1 reino distinto + Reino de Deus no fim. Em Dan 8 há uma mesma sequência de reinos até o fim (v.17,19). Um deles é interpretado no próprio livro como Media e Persia (v.20), e o poder que o segue como Grécia (v.21). Em Dan 11 os reis também são descritos em sucessão temporal, um seque o outro.

Assim, levando em conta o próprio conteúdo do livro de Daniel, a impressão é que todas as visões possuem o mesmo conceito de descrever a história do tempo do profeta até o tempo do fim sem hiatos significativos. A estrutúria literária em paralelismo temático fortalece essa ideia que parelha todas as visões proféticas de Daniel (2,7,8-9,10-12). Vejamos apenas algumas semelhanças: Dan 7 e 8 finalizam com um juízo celeste; Dan 8 e 11 descrevem um poder inimigo atacando o santuário de Deus e Seu culto bem antes do fim; Dan 2 e 7 começam com 4 reinos.

Outra evidência significativa apoiando essa interpretação historicista sem maiores hiatos temporais se encontra na interpretação de Jesus (Mat 24:15; Mar 13:14). Para Cristo à abominação desoladora do chifre blasfêmio contra o santuário ainda estava para acontecer (futuro imediato de Jesus). João no Apocalipse também refere-se as profecias de Daniel acontecendo no futuro, mas isso requer uma visão historicista para interpretar o livro de Apocalipse.

O que concluímos aqui é que a leitura mais coerente do livro de Daniel é historicista. Sua estrutura literária e conteúdo sugerem fortemente que seus símbolos proféticos predizem eventos e poderes em sucessão histórica desde o tempo do profeta até o tempo do fim sem hiatos significativos. Talvez seja por isso que o autor seja elevado geograficamente em visão ou sonho, pois os eventos transcritos ocorrem além de sua habilidade. 

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