5)
O
cifre “pequeno” origina de um dos 4 chifres ou de um dos 4 ventos? E qual a
diferença?(Dan 8:8-9)
Já vimos brevemente que existem interpretações diferentes sobre profecias
apocalípticas. Em particular, essa questão em Daniel 8 traz à tona a diferença
entre preterismo e historicismo. Enquanto o historicismo interpreta o quarto
reino de Dan 7 como o Império Romano em suas duas fases (pagã e papal), o
preterismo vê o poder representado pelo chifre que começa pequeno e persegue o
povo de Deus como Antíoco IV Epifânio. Um dos maiores argumentos para tal
diferença é Dan 8:8,9 sobre a origem do chifre pequeno.
É importante salientar aqui que até as traduções revelam tendências
interpretativas sobre a profecia de Daniel. A de João Ferreira de Almeida Revista Atualizada
(ARA) traduz o verso 9 da seguinte forma: “de um dos chifres saiu o chifre pequeno”. A João
Ferreira de Almeida Atualizada e a Nova Versão Internacional diferentemente
traduzem: “de um deles saiu um chifre pequeno”. Outra tradução, O Livro, já diz: “um
destes chifres, crescendo devagar a princípio...”
Note que as traduções O Livro e a ARA são interpretações do texto hebraico,
pois o v.9 diz apenas “de um deles”, o que as traduções Atualizada (AA) e a NVI
mantêm. Mesmo assim, mantendo uma tradução mais literalística do texto
hebraico, a questão continua. O que significa “de um deles”? De onde vem o
chifre que ataca o céu, Deus e o santuário? Determinar tal poder é importante
visto que suas atividades afetam o povo de Deus. Então qual interpretação
possui mais evidências textuais e históricas?
Antes de avaliarmos as diferenças interpretativas destaco que tanto o
historicismo como o preterismo interpretam Dan 8 num contínuo histórico. Isso
porque o próprio anjo na segunda parte do capítulo assim interpreta. O carneiro
representa a Média e os Persas (v.20), o bode a Grécia, o chifre notável o seu
primeiro rei e os próximos 4 chifre como quatro reinos subsequentes. Então não
há dúvidas historicamente que os gregos vieram após os Medo-Persas com um
grande rei, Alexandre o Grande, e logo após sua morte o seu império foi
dividido entre quatro generais que fundaram quatro sub-impérios (Cassandro,
Lisímaco, Ptolomeu e Seleucida).
A diferença entre o preterismo e o historicismo é a relação entre Dan 8:8,9
com o chifre que sai do quarto animal em Dan 7. Como há uma forte relação entre
ambas as visões elas devem ser consideradas juntas. Em Dan 7 também há uma
descrição de impérios “mundiais” representados por animais/bestas. Eles são
visto em sequência representando linearidade histórica. Tanto o leopardo em Dan
7 e o carneiro em Dan 8 possuem quatro protuberâncias (cabeças/asas e chifres).
Em seguida, nos dois capítulos, aparece um chifre que cresce para atacar o povo
de Deus até o tempo do juízo.
Continuando o paralelismo, nos dois capítulos os poderes crescem em força
até atingir a Deus. Grécia foi mais forte que os Medo-Persas, e Roma mais forte
que a Grécia. Há uma progressão de poder assim também como uma separação/distinção
de reinos. Quando os preteristas identificam o último chifre como Antíoco IV
eles não são fiéis à descrição das visões nem a história. Antíoco não possuiu
um reino distinto dos gregos (Alexandre o Grande) nem foi maior que o seu
fundador. Mas o império Romano foi.
Sobre a distinção de poder, as duas visões possuem uma sequência que sugere
essa distinção de poder: “eu vi” + descrição do símbolo + direção + poder. Em
Dan 8 essa sequencia distingue o carneiro do bode e em Dan 7 os quatro poderes
da Babilônia (leão), Medo-Pérsia (urso), Grécia (leopardo) e Roma (besta
espantosa). Porém não há nenhuma visão em Dan 8 para descrever o chifre pequeno
no v.9. (Isso foi identificado por Martin Proebstle em sua tese de PhD em
Antigo Testamento na Andrews University – Truth
and terror). Estaria então os preteristas corretos ao identificarem o v.9
como uma continuação do poder anterior? (continua
no próximo post)
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