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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Començando lição de Gálatas

Owo! Que propício essa lição sobre Gálatas. Falar sobre lei, liberdade, culto, ritos, missão e tensão. Vamos continuar donde deixamos no último comentário sobre adoração na igreja primitiva. No último texto investiguei a mudança teológica que a vinda de Jesus trouxe aos judeus-cristãos. E com essa mudança o que foi modificado no culto, salvação e missão.
Centrais à essas mudanças estão Paulo, Estêvão, Pedro, Cornélio e o concílio de Jerusalém.  Escrevi anteriormente que:
“na prática o que Tiago deixou claro é que os costumes judeus da época não deveriam ser padrão para todos. Mas que deveriam ser mantidas os princípios de culto gerais do Antigo Testamento que envolve tanto Israelitas como estrangeiros, como Levíticos 17-19. ...Parece que os cristãos da época de Paulo demoraram para entender tais ideias. No livro de Gálatas e Romanos Paulo continua a debater sobre tais assuntos. E em Atos 18, em sua segunda viagem missionária, após o relato Lucano do concílio de Jerusalém,  encontramos Paulo debatendo novamente esse assunto.”
O que deveria continuar ou não nos rituais do santuário em relação a vinda de Jesus Cristo? Qual a importância e relevância da lei ou leis do Pentateuco após o Messias? Sobre essas importantes questões aprenderemos ainda mais nesse trimestre. Mas, como sempre, nesse tipo de estudo focando em um livro a lição da escola sabatina começa com uma introdução histórica sobre o autor.
O papel de Jesus nisso tudo
Já vimos que a vinda de Jesus mudou os paradigmas de muitos judeus. É importante entendermos essas mudanças à luz do livro de Atos, pois é sobre essa mudança que Paulo escreve o livro de Gálatas. Mas isso veremos nas próximas semanas.
O livro de Atos começa onde o evangelho de Lucas termina. O último capítulo de Lucas é sobre a ressurreição de Jesus (v.1-12), o diálogo de Jesus no caminho para Emaús (v.13-35), a aparição aos apóstolos (v.36-49), e sua ascenção (v.50-53). Que a ressureição ocorrida no domingo é algo espetacular, fisicamente falando, e dispensa comentários. Mas relacionado a um Messias morto como um criminoso é ainda mais, teologicamente falando.
Tanto que como bons judeus, os dois discípulos que  voltaram tristes das festividades pascoais aos seus lares questionaram a identidade de Jesus. E de acordo com Cleopas, Jerusalém inteira fazia o mesmo questionamento (v.18). “Ora nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam.”
“Ele quem havia de redimir a Israel”. O que eles estavam dizendo? Para cristãos quase 2 milênios depois, tal pergunta parece ser tão simplória. Por causa de nossa rica tradição evangélica (dos Evangelhos-Novo Testamento), a salvação pela morte de Jesus é segunda natureza. Mas para judeus do século 1 não era bem assim. O que envolvia a redenção e qual a relação com Paulo, Pedro e o livro de Gálatas?
A tradição judaica  contava a seguinte história: há milhares de anos atrás o Deus Todo-Poderoso resolve criar o universo, e dentre eles o planeta com animais e seres humanos. Todos teriam vida sem fim se confiassem em Deus, obedecendo-o. A ordem era clara, não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal. Ouvindo a serpente Eva e seu esposo viraram as costas à ordem divina e criaram suas próprias realidades.
No final das contas, eles descobrem não somente que estavão nus, mas também que Deus estava certo e a serpente errada. Descobrem também que Deus dá uma segunda chance por meio do sacrifício de uma animal cuja pele os cobre. Mas não somente isso, eles aprendem que esse sacrifício seria um descedente da mulher, e que guerrearia contra os descedentes da serpente e finalmente destruiria o pecado (Gn.3:15).
Apesar de Eva esperar ser Caim o tal descedente, sua esperança foi parcialmente frustrada. Mas não fora somente Eva que se decepcionou com a esperança dada pelo Criador. Com poucos detalhes sobre tal salvador, Deus apenas havia informado Eva que seria um descendente, não o primeiro, nem quando, ou onde. Nos filhos de Noé Deus afunila sua predição, limitando tal promessa aos filhos de Sem (Gn.10:27). Com Abraão e Davi mais detalhes são adicionados.
Com Abraão a salvação da humanidade ganha contornos específicos. Em Gn.12 a salvação do mundo se torna bem familiar, “em ti serão benditas todas as famílias da terra.” Pelos filhos de Abraão viria o descendente esperado. E junto com a salvação uma terra e uma nação. Para aqueles dois judeus de Emaús ser judeu era fazer parte do único povo divino. Mas sobre o fim do pecado... anos vão e vem, Jacó, José, Moisés e nada de fim do pecado, pelo contrário, coisas parecem só piorar.
Com Moisés e a saída do Egito, os descedentes de Abraão ganham status de povo escolhido de Deus, uma nação de sacerdotes, povo santo. Mas a promessa é condicional, como foi no Éden . “Se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então...”  Depender de Deus obedencendo aos Seus mandamentos, além da escolha soberana divina os tornava meios por quais todas as famílias da terra seriam abençoadas.
Centenas de anos passam, coisas ruins acontecem assim como coisas boas, mas nada do esperado descedente aparecer. Israel decide ter um rei. Por meio do segundo rei, Davi, Deus revela a Seu povo novamente Sua promessa, com mais detalhes sobre o tal descendente. Ele será o filho do Rei Davi, e estabelecerá o reino de Israel para sempre (II Sm.7:8-17).
Certamente a princípio Salomão criou grandes espectativas na mente dos Israelitas. Como Eva e os dois discípulos a caminho de Emaús tal esperança se tornou rapidamente em grande decepção. Caim, Salomão e Jesus morreram e a vida contiuava a mesma, quer dizer, pior porque Deus ainda não cumprira Sua promessa.
Promessa essa que fora detalhada ainda mais com os profetas. Não afirma Isaías que o renovo de Davi destruiria os inimigos de Israel?! E que Ele purificaria Jerusalém de toda imundícia e resplandeceria em glória, reinando para todo o sempre!? Trazendo de todas as nações da terra o restante de Seu povo para reinar juntamente com eles (Is.4,11, 65 e 66)?!

Como conciliar tais profecias sobre um reino eterno com um filho de Davi  que morreria mas que reinaria para sempre e destruiria todos os inimigos políticos?


Com toda essa tradição em mente, e com grandes esperanças instigadas pela pregação de João Batista e os ensinos e milagres do carpinteiro de Nazaré, milhares de judeus esperavam ser Jesus, o Cristo. Mas esse Jesus, a quem esperavam ser o que redimiria a Israel, morrera já fazia 3 dias, e os opressores romanos continuam como antes. Mais uma decepção! Porém note a resposta de Jesus.

“Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram! Não convinha que Cristo padecesse e entrasse na sua glória?” (Lc.24:25) Qual foi a parte que Jesus afirmou ser ignorada pelos discípulos? A morte e a glorificação do Messias.  Is.53, junto com a parte da ferida do calcanhar do descedente, à luz do sacrifício no santuário não entendida.
Essa falta de entendimento não era de todo estranha, penso. Como conciliar tais profecias sobre um reino eterno, com um filho de Davi que reinaria para sempre e destruiria todos os inimigos políticos com alguém que morreria? Essa conciliação entre santuário, sacrifício e salvação não era bem explicada na mentalidade judaica aparentemente.
E mesmo depois da explicação de Jesus aos dois naquele domingo, e em seguida ao restante dos discípulos em Jerusalém, tal assunto não fora resolvido completamente. Isso demoraria anos, posso até dizer milênios, se considerarmos que nem todas as implicações de tal mensagem fora explicada no cristianismo.
Quando Paulo entra nessa história
A tentativa de resolução desse problema é percebida claramente (mas não somente) na história de Cornélio e Pedro, e em seguida Paulo com sua viagem missionária e o Concílio de Jerusalém. Ambas histórias se relacionam com a história de Estévão de alguma maneira.
Já vimos que o judeu de origem grega (heleno ou da diáspora), Estêvão, movido pelo Espírito Santo discutia as Escrituras com judeus em Jerusalém. De acordo com Lucas alguns entenderam Estêvão como os sacerdotes entenderam Jesus, falando contra o lugar santo e a sua lei. Contra o santuário e seus ritos. Como não temos o que Estêvão falou, devemos buscar o que Jesus afirmou sobre o assunto.

Essa conciliação entre santuário, sacrifício e salvação não era bem explicada na mentalidade judaica aparentemente.


Em João 2, ao remover os comerciantes do pátio do templo, Jesus afirmou que destruiria o santuário em três dias e o reconstruiria. Sobre essa base o sumo-sacerdote acusa Jesus e o mata. Mas João explica que Jesus se referia ao Seu corpo. Se Jesus disse ser Seu corpo o santuário, e João Batista O chamou de Cordeiro de Deus, podemos deduzir algumas coisas.

Primeiro, a morte de Jesus destruiria de alguma forma o templo. Segundo Ele era o cumprimento da promessa do sacrifício de Deus em Gn.3 e que dava significado ao santuário. Assim, à luz de Is.53, o Cristo daria fim/finalidade aos rituais do santuário, providenciando salvação a todos por meio de Sua morte vicária. Não eram esses os elementos que Jesus afirmava faltar nos discípulos de Emaús? Parece que com Estêvão os cristãos estavam aprendendo tal relação.
Relação essa que inclui Paulo na história desse entendimento. Pois ele é visto na cena do debate e crime de Estêvão (At.8:1). E após a sua conversão é relacionado também com o mesmo grupo de Estêvão, os judeus helenistas (9:29). E é Paulo ,que por meio de sua perseguição aos cristãos em Jerusalém, espalha-os para pregar o evangelho (8:1-8). Note que Felipe é o primeiro relato de pregação fora do ciclo de Jerusalém. E depois temos Paulo em Damasco e Pedro em Jope.
Nesse ponto a relação entre cristãos-judeus e gentios estavam se estreitando. Não que isso não ocorria. Era normal um judeu conviver com outras pessoas, falar de sua religião a elas e até aceitá-las como judeus conversos. Mas tal conversão incluia, no caso masculino, circuncisão e participação nos ritos do templo. Pois essa era a marca dos escolhidos filhos de Abraão. Aos que não queriam a circuncisão, prática abominada pelos romanos, mas que adoravam o Deus de Israel e participavam do culto na sinagoga, os judeus consideravam tementes a Deus.
Mas na visão do lençol e no encontro com um temente a Deus essa visão seria desafiada. Em At.10 Deus deixa claro a Pedro que gentios eram também povo de Deus. E com a presença do Espírito Santo em Cornélio e sua família, Pedro reconhece que mesmo sem circuncisão os que creem em Jesus como Cristo (o descendente da promessa) são aceitos e salvos por Deus.
Ao ouvir essa e outras histórias de gentios incircuncisos recebendo o Espírito, judeus-cristãos de Jerusalém (não helenos) intimam Pedro a se explicar (11:1). Ao contar sua experiência, Pedro iguala a experiência de conversão de tais gentios com a dos apóstolos em Jerusalém com base no Espírito, e não no rito de cortar parte da pele do pênis.
“Quando comecei a falar, caiu o Espírito Santo sobre eles, como também sobre nós, no princípio...Pois se Deus lhes concedeu o mesmo dom que a nós nos outorgou quando cremos no Senhor Jesus, quem era eu para que pudesse resistir a Deus?” (v.15,17)
O resultado é positivamente aceito pela igreja em Jerusalém, mas o livro de Atos e de Gálatas revelam que a aceitação não foi unânime. Esses da “circuncisão”, alguns indificados por Lucas como fazendo parte da “seita dos fariseus” (15:5), outrora grupo de Saulo, levantam a questão novamente, agora com uma aceitação ainda maior de gentios com a pregação de Paulo.
Note que a questão é a mesma, ainda não compreendida por toda a igreja. A relação entre salvação e, na linguagem de Lucas, “o costume de Moisés” (v.1).  Qual o papel da lei de Moisés e dos rituais judaicos ordenados por Deus como símbolo do povo santo com a vinda de Jesus, o Cristo? O fato é que o concílio de Jerusalém decide que os gentios são aceitos pela igreja sem o rito da circuncisão, mas
que vos abstenhais das coisas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue, da carne de animais sufocados e das relações sexuais ilícitasç destas coisas fareis bem se vos guardardes.”  (v.29)
Mas novamente, como no caso de Pedro e Cornélio, a aceitação estava longe de ser unânime e resolver o problema de uma vez. Isso porque, o que me parece, teologicamente a igreja cristã da época  ainda não tinha refletido suficientemente sobre as implicações da vinda, morte e ascenção de Jesus como Messias.
Comunicação divina dessa semana: É isso que Paulo faz em Gálatas, livro de nossa reflexão esse trimestre. O que aprendi com essa semana é que nem sempre é fácil desvencilhar de nossas tradições, principalmente se elas estão baseadas de alguma forma na Bíblia. Mudança na igreja requer tempo, missão e abertura para discussão. Creio que a Igreja Adventista e o Cristianismo em geral fariam bem se envolvessem mais em missão e discutissem abertamente as implicações da Pessoa de Cristo na estrutura da igreja e na salvação de toda a humanidade.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Lição 11 – Adoração no início da Igreja Cristã

Na semana passada descobrimos que a encarnação de Jesus modificou os contornos do culto Vétero Testamentário. Isso quer dizer que os locais, rituais, e propósito do culto do templo Israelita ganharam dimensões maiores, superiores. Como já esperado pelos profetas, o Messias completa e realiza o objetivo do culto no santuário. Mas o que isso significava na prática da igreja cristã no tempo de Paulo e hoje?

Teologia e culto
O aparecimento do Messias cumpriu o proclamado e esperado por séculos na religião Israelita. A vinda de Jesus modificou muitas coisas. E certamente uma delas foi o culto. Ao começar a pregar que o carpinteiro de Nazaré era a esperança de Gn.3:15 realizada, a impressão que tenho em ler Atos é que os discípulos não entederam completamente o impacto do evento Cristo. Mas com o tempo, vivendo pelo Espírito, Deus os guiou no desenvolvimento da verdade como prometera antes de morrer (Jo.16:7-13).

O primeiro indício que encontro em Atos sobre mudança de paradigma no culto dos apóstolos é o conflito entre Pedro e os líderes do templo. Ao ouvirem os discípulos do Mestre , a quem eles haviam matado, no templo pregando sobre Jesus sendo o Messias, as “autoridades” religiosas os condena (At.4:1-22). Sendo assim maltratados, os apóstolos reagem de maneira antagônica aos líderes do templo e, consequentemente, aos seus rituais e ensinos de culto. Isso é percebido pelo conteúdo da resposta de Pedro ao Sinédrio.

Mas a reação não involve uma mudança radical e completa. Perceba que o grupo de  Jesus continua indo ao templo para adorar mesmo após a instituição de ‘pequenos grupos’ caseiros (At.4:32-35; 5:12). A ida frequente ao templo é um possível indicador que eles ainda relacionavam adoração com o templo de Jerusalém. Décadas depois, mesmo após o concílio de Jerusalém, Paulo ainda vai ao templo participar de seus ritos (At.21:26).

Isso não é de todo estranho, visto que no Antigo oriente o lugar de adoração na maioria das religiões era um edifício suntuoso chamado santuário. E mesmo porque até onde sabemos Jesus não havia dito para eles pararem de ir ao templo, mas que pregassem primeiro em Jerusalém. E que melhor local que o santuário?!
A questão é que a teologia de tais judeus não era mais a mesma que a 4 anos atrás (antes da vinda de Jesus). De acordo com a pregação de Pedro, eles entenderam que Jesus era o Messias. Ele era o filho de Davi, e que reina no trono de Deus no céu. Mas o que isso tem a ver com o culto? Estevão aparece como o primeiro em Atos a elaborar algumas implicações do evento Cristo no culto.

Em Atos 6 nos é informado que na região helênica de Jerusalém (os judeus da diáspora – não Palestinos – v.8,9) surgiu um acalorado debate envolvendo Moisés e Deus. E o personagem principal de tal agitação era Estêvão. O v.13 afirma que os judeus que não concordavam com Estêvão acreditavam que ele “não cessa de falar contra o santo e contra a lei.”

Isso quer dizer, “porque temos ouvido dizer que esse Jesus, o Nazareno, destruirá este lugar e mudará os costumes que Moisés nos deu.” (v.14) Tais argumentos e acusações repetem o que fizeram com Cristo. Em João 2, ao purificar o templo, Cristo afirmou que destruiria “este santuário”. No Sinédrio, perante  os sacerdotes, Jesus é acusado de rejeitar os rituais do santuário e afirmar ser Deus (contra o Santo e a Lei – ver Marcos 14:53-65 e paralelos em Mt.26:57-68 e Lc.22:63-71).
Que a causa da morte de Estêvão envolvia o culto, a lei e o templo como interpretado por Cristo basta ver a ênfase de seu discurso sobre o templo. Estêvão contrasta a idolatria de Israel com a adoração verdadeira do Templo que apontava para Jesus. Visto que os atuais líderes rejeitaram Jesus, eles eram também idólatras como os antepassados.

Mas a mais importante informação é o fato de Jesus estar no céu com Deus (v.56 – ver 2:33; 3:19-21). Se Pedro e Estêvão estiverem correto, que Cristo está no céu e oferece perdão/salvação, então qual o valor dos rituais do templo  e do próprio templo? Reconhecendo talvez as drásticas implicações de tal mensagem, os sacerdotes mataram Jesus e Estêvão, e tentaram matar Pedro e os seus seguidores. Tal mensagem tornaria o templo insignificante, assim pensavam.

Note que com a mudança da teologia o formato presente do culto Judeu começa a ser questionado. E o que significa a mensagem de 1844 e a mudança de Jesus do santo para o santíssimo na liturgia cristã? Deveria a liturgia adventista refletir o culto evangélico que não possui tal crença? Tais reflexoes teológicas são considerações importantes que deveriam afetar nossa maneira de cultuar. Mas, continuemos...
Teologia, missão e culto
Logo após o debate dos judeus helenos e do martírio de Estêvão, Lucas relaciona a figura de Paulo, da perseguição da igreja e da pregação do evangelho fora de Jerusalém. Esses elementos são preponderantes no desenvolvimento litúrgico no início da igreja Cristã.

A perseguição em Jerusalém fez com que os seguidores de Jesus saíssem de Sião para proclamar Jesus em Samaria. Vemos Filipe na região da prostituta de Sicar (lembra do discurso de Jesus sobre adoração em espírito e verdade?!), depois sendo levado por um anjo, pregando para um africano no deserto de Gaza, e em seguida em Azoto no norte de Gaza e em Cesareia. O movimento da pregação reflete o mandato de Jesus em At.1:8 – Judeia, Samaria e confins do mundo.
A missão dos seguidores de Jesus se espande com Saulo. Primeiramente com o Saulo perseguidor; e o mais importante, quando Saulo se converte. Pois é com a conversão de Saulo para Paulo que a missão aos confins do mundo (Gentios) ganha proporções de impacto. E o que isso tem a ver com o culto?

Se considerarmos que o templo era o locus judaico da salvação e presença divina, a missão dos cristãos tem muita influência no culto desse tempo/templo. Se Jesus é Deus, que oferece salvação, que está atualmente no céu, e que tem o Seu Espírito habitando em qualquer lugar com os crentes em Seu nome (Mt.18:19,20), então certamente Jesus se torna um templo, como afirmava os Cristãos. E qual o papel dos rituais em Jerusalém?
Ao saírem de Jerusalém e pregarem fora do templo, não só a teologia mas a missão e o culto mudam. Saulo, o assassino de Estêvão, teve que aprender essa lição caindo do cavalo. Pedro aprendeu com um sonho e com Cornélio. Tiago e os líderes cristãos em Jerusalém com um debate e concílio. A razão da missão afetar o culto é simples e ao mesmo tempo complexa.

Quando saímos de nossa zona de conforto e visões de mundo estabelecidas (tradições) os nossos hábitos são questionados. Aos saírem de Jerusalém e entenderem que Jesus era o Salvador do mundo não só dos Judeus como também dos gregos, e que tanto gregos como israelitas adoravam o mesmo Criador, as tradições litúrgicas dos discípulos foram expandidas. Saia de seu costume, de sua igreja local e vá pregar nas favelas, prostíbulos e bares, e veja como sua visão de culto será modificada!
Com a teologia modificada e a missão expandida, a liturgia cristã também reflete tais mudanças. Tal impacto foi reconhecido em Jerusalém. Em Atos 15 Lucas registra o que nomeamos o primeiro concílio eclesiástico cristão. E qual era o assunto principal da agenda? Missão e sua relação com culto e salvação (v.1,5). Pedro é o porta-voz do grupo que advogava mudanças na liturgia, grupo esse que incluia Paulo e Barnabé. Do outro lado estava a “seita dos fariseus que haviam crido” (v.5).

O argumento de Pedro é: como a salvação é pela graça, por meio de Jesus a todos que O aceitarem, o contato agora com o divino não passa mais por meio de sacrifícios ou sacerdotes, mas sim diretamente com Jesus no céu. Isso significa que a presença no templo em Jerusalém não era obrigatória, e que não precisava alguém ser judeu (circuncidado) pra adorar. Lembre-se que para entrar no templo em Jerusalém tal indivíduo deveria ser judeu circuncidado.
A decisão de Tiago, irmão de Jesus, é que o parecer de Pedro foi confirmado pelo Espírito, e por isso deveria ser aceito pela igreja. Os gentios que aceitassem a Jesus deveriam apenas lembrar que adoração verdadeira não pratica idolatria, o que envolve alimentação e relações sexuais impuras. Na decisão do concílio de Jerusalém, culto, alimentação e sexo estão intimamente relacionados.

A prática
Na prática o que Tiago deixou claro é que os costumes judeus da época não deveriam ser padrão para todos. Porém que deveriam ser mantidos os princípios de culto do Antigo Testamento que envolviam tanto Israelitas como estrangeiros (Levíticos 17-19). Eu me pergunto se como Adventistas temos entendido os princípios gerais de culto divino.

Parece que os cristãos da época de Paulo demoraram para entender tais ideias. No livro de Gálatas e Romanos Paulo continua a debater sobre tais assuntos. E em Atos 18, em sua segunda viagem missionária, após o relato Lucano do concílio de Jerusalém,  encontramos Paulo debatendo novamente esse assunto.
Em Corinto, como era de costume, Paulo começa pregando o evangelho entre seus compatriotas judeus. Na sinagoga, como bom fariseu, ele participava do culto e lia as Escrituras sem problema. Mas ao falar que Jesus era o Cristo, isso lhe trouxe problemas. Muitos judeus não aceitaram tal mensagem de um messias  salvador se tornando homem, crucificado, ressurreto, prestes a vir, doador da vida e liberdade a todos os que Nele cressem.

Tal mensagem era tão radical que os judeus da sinagoga de Corinto não só repeliram Paulo como o perseguiram fora dela na cidade. Eles pegaram Paulo e levaram-no perante o tribunal romano, acusando-o de sedição religiosa. “Este persuade os homens a adorar a Deus por modo contrário a lei.” (At.18:13). Ao refletir sobre esse texto me pergunto, que lei referiam os judeus de Corinto?
Se é a lei romana, tal acusação faria até algum sentido. É sabido que alguns imperadores romanos, a partir de César Augustus, foram considerados deuses e a adoração a tais era obrigatória. Desobediência incluia pena de morte. Esse foi o argumento usado pelos líderes judaicos no ano 31 contra Jesus perante Pilatos. Lembra do que eles disseram, “não temos rei senão César!”  (Jo.19:15). Mas certamente tal argumento iria contra religião e lei judaica.

Se a lei de At.18:13 se refere aos costumes Israelitas, isso pode implicar que Paulo estaria pregando como Estêvão, contra o Santo e a Lei (o templo e os rituais mosaicos). A resposta de Gálio me parece indicar que a segunda opção seja o caso. “Se fosse, com efeito, alguma injustiça ou crime da maior gravidade, ó judeus, de razão seria atender-vos; mas, se é questão de palavra, de nomes e da vossa lei, tratai disso vós mesmos; eu não quero ser juíz dessas coisas!” (v.14,15).
Sendo este o caso, de Paulo seguir a teologia de Pedro e Estêvão do santuário celestial e de mediação de Cristo no céu, note que a mensagem cristã gerou desavença na liturgia e teologia judaica do tempo. A concepção que Deus não se limitava ao templo em Jerusalém, que o Criador havia vivido em carne na pessoa de Jesus, e agora intercede no céu perdoando pecados de qualquer um que crer são radicais.

E nós, Adventistas?
Em 1844, após o desapontamento milerita de 22 de outubro, um grupo de estudantes da Bíblia revisa suas crenças proféticas. Hiram Edson, Samuel Snow, José Bates, Tiago e Ellen G. White, dentre outros, discutem o que aconteceu naquele dia e o que Dn.8:14 tem a ver com salvação, culto e lei. A história se repete.

Agora não fora a profecia de Dn.9 que mudara a teologia do povo de Deus, como nos dias de Paulo. Porém a profecia relacionada de Dn.8:14 trouxe modificações ao remanescente na modernidade. Enquanto o mundo cristão não sabe que Jesus está no santuário celestial intercedendo por nós no santo dos santos, como no ritual da expiação (e ainda rejeitam tal noção), aquele grupo com tal conceito modificou por completo o sistema de culto cristão.
Ao afirmar que há um santuário celestial real, onde Deus habita e Jesus o Cristo intercede por todos os que Nele creem, os adventistas quebram com o paradigma da adoração atual. O culto verdadeiro tem que considerar tais afirmações revolucionárias. A existência de um juízo investigativo, de uma lei eterna, de um dia santo (o sétimo dia do sábado), da volta de Jesus literal em breve, e do cumprimento profético em 1844, modifica completamente a noção de culto cristão hoje.

Mas o que modifica? Tais relações ainda precisam ser elaboradas e seriamente refletidas. Creio que com o modelo do desenvolvimento em Atos temos muito o que aprender. A mudança na teologia sobre Cristo (Cristologia, doutrina de Deus), seguida da missão e soteriologia (mensagem de salvação) repercutiu fortemente na liturgia.
Movimentos como Nova Semente (São Paulo) e Fusion (na Universidade Andrews), assim como envolvimento com budistas e islâmicos na Ásia, têm gerado tensões na compreensão de culto no adventismo. Essa lição da escola sabatina, o chamado para reforma e reavivamento da Conferência Geral  tem tentado diminuir tais tensões. Porém, tenho que concordar com o professor Fernando Canale que a discusão está longe de ser resolvida. A razão é que os membros não se envolvem mais com a missão, e não estudam mais a Palavra de Deus em oração.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Adorando em espírito e em verdade


A lição muda sua atenção do Antigo Testamento para o Novo. O que acontece com o culto nessa transição? Cristo apararece, e com Ele, diria o autor de Hebreus, tudo muda. O que outrora era prometido agora é realizado. O que antes era parcial é completado. Isso não significa substituição, mas cumprimento. Continuando de onde paramos na semana passada, Daniel 9, agora entramos no cumprimento do que os profetas esperaram por séculos, a presença da glória do Senhor.

A presença de Jesus

Após voltarem do cativeiro, os judeus deveriam ter aprendido a lição que adoração ao Deus verdadeiro envolve mais que ritos em Jerusalém. Visto que Ele é Senhor dos céus e da terra, Ele não se confina  às construções humanas nem às suas vontades. O Criador do universo habita onde deseja e abençoa a quantos queira.

É fato que Deus escolheu Israel, Jerusalém e o santuário em Sião. Deus de fato habitou no meio dos louvores de Israel, como afirma o Salmo. Mas sua “limitação” não era controlada por seres humanos, quero dizer, não era controlada por vontade humana a fixação do divino em um lugar físico único. Essa era a religião dos pagãos. Marduque habitava Babilônia; Dagon, a Fenícia; e Baal, Canaã.

Mas o Deus de Israel ia onde seus filhos estavam. Ele desceu ao Egito para livrá-los da escravidão. Andou numa nuvem com eles no deserto da Arábia. Entrou em Canaã com a arca. Encheu com Sua glória o templo Salomônico. E quando os Israelitas viraram as costas, adorando ídolos, Deus abandonou o lugar outrora santo. Como prometido pelo próprio Deus em Deuteronômio, a idolatria faria com que Israel fosse espalhado entre os pagãos.

E foi isso o que ocorreu. O falso culto no santuário do Deus verdadeiro se tornou habitação de demônios e a glória do Senhor deixou o templo, mas não Israel. De acordo com Ezequiel, como vimos semana passada, a glória ferida do SENHOR segue seus filhos até Babilônia. Lá, Deus se fez presente em cova de leões, em camas de reis (sonho), em fornalhas, e em casas de cativos (Ezequiel).
Daniel e Ezequiel prometeram o retorno da glória do Senhor ao templo, trazendo salvação a todo o mundo. Os anos passaram. Ageu deixou claro que essa glória seria bem maior que a do tempo de Salomão. Mas nada ocorreu na dedicação do templo no tempo de Esdras. Certamente a glória do Senhor não viera como o prometido por Isaías, Jeremias, e muito menos Ezequiel e Daniel.
O que isso tem haver com o culto? Para os Israelitas e a religião do Antigo Testamento, sem a presença de Deus não há adoração significativa. Os sacrifícios continuaram, os rituais litúrgicos oferecidos no altar proseguiram até o ano 70AD, quando finalmente a estrutura do templo em Jerusalém foi destruída. Mas pouco antes da destruição, o que Gabriel contara a Daniel se cumpriu. A vinda do Messias muda a dinâmica do culto mais uma vez.
Mudanças já ocorreram na adoração verdadeira antes. Vimos que entre o Gênesis e o Êxodo o culto se modificou em vários aspectos, sem ignorar os elementos fundamentais do altar e do sábado. Observamos também que o culto mudou novamente com o cativeiro em Babilônia. E não é surpresa que a vinda do Messias mudaria as coisas novamente. Não só era natural como esperado e anunciado.
Gabriel falara a Daniel que após 69 semanas de anos (483 anos) o Messias seria morto e na metade da última das 70 semanas Ele faria cessar o sacrifício e as ofertas. Ao ver  Jesus na beira do Jordão, João Batista, o último dos profetas do Antigo Testamento, afirmou ter visto o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo.
O que isso significava? Muito provável que Jesus era o que faria “cessar a transgressão, dar fim aos pecados, expiar a iniquidade e trazer justiça eterna.” (Dn.9:24) Era o ideal do culto Israelita prometido pela profecia.  Pois os ritos do santuário e do altar eram símbolos que ensinavam purificação do pecado e restauração do homem à presença santa de Deus. A remoção do pecado, e a reintrodução do homem com o divino ocorreu quando a “Palavra se fez carne e habitou entre nós”. Jesus perdoa pecados e como Deus, habitou face a face com as criaturas.
Em Jesus, a glória entra no templo como prometida por Ageu (Luc.2:27,30,31). Mas novamente a glória do Senhor encontra apostasia e impureza no santuário (Jo.2:13-16). E assim como no passado, a glória do Senhor não pode habitar num templo impuro, desobediente. Por fim, a glória abandona o templo (Mt.23) e este é novamente destruído. A história se repete. Deus continua sendo o mesmo, e infelizmente os pecadores também.

O que mudou?
Se Deus é o mesmo, isso significa que os princípios de culto não mudam, correto? Cristo vem para cumprir a lei (Mt.5:17). Ao conversar com a Samaritana Jesus deixa claro que o verdadeiro culto era realizado em Jerusalém. A religião de Israel, e os rituais litúrgicos feitos no templo em Sião eram instituídos por Deus. “Vós adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus” (Jo.4:22).
Note que Jesus relaciona culto com salvação. Desde o Éden, adoração é sinônimo de vida ou morte. Os que seguem o verdadeiro Deus recebem vida. As bençãos e maldições na aliança em Deuteronômio, repetida pelos profetas, demonstram essa mesma dinâmica. Quando Israel se apegava ao Criador eles eram abençoados. Quando seguiam ídolos eram amaldiçoados.
No Êxodo o culto é atrelado à libertação da escravidão. Em Daniel 9 também observamos essa característica. O questionamento de Daniel quanto a restauração do templo, o centro do culto, foi respondido com a vinda do Messias e a salvação de Israel. Como o Messias é judeu, da linhagem de Abraão,  especificamente de Davi, a salvação pertencia aos judeus, e com isso, o culto verdadeiro. A razão é óbvia, o Messias é o próprio Deus.
Ou seja, isso significa que a adoração do altar feita por Abraão é oferecida ao mesmo Ser que recebe ofertas no Santuário do tempo de Salomão, de Daniel e agora da samaritana. Isso não significa, no entanto, que o Criador era manipulado por Jerusalém. Observe que na conversa entre Jesus e a samaritana ela considera religião como se se limitando às culturas.
És tu porventura, maior do que Jacó, o nosso pai...nossos pais adoravam neste monte; vós entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar.” (Jo.4:12,20) Nessa resposta entendo que o conceito de religião e culto estava atrelado apenas à geografia, consequentemente às limitações humanas. O Deus verdadeiro era relativo, meu e não seu. Judeus afirmavam adorar a verdade enquanto que os samaritanos também. Apegados às tradições eles separavam a humanidade e o único Deus.
Mas Jesus não define religião como limitada às culturas, como a samaritana, porque o Deus Criador é universal. Perceba que essa é a mesma característica da religião verdadeira no Gênesis.  Ao mesmo tempo Cristo deixa claro que é em Jerusalém e não em Samaria que o Deus verdadeiro é adorado corretamente. É no templo da linhagem de Moisés, com os rituais instituídos no Sinai, que encontra-se o verdadeiro culto. O que essa tensão nos ensina?
Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade” (v.23). Em espírito. Por meio da lição dos profetas vimos que não eram as formas apenas que importavam para Deus. Os rituais de pufiricação do templo ensinavam que o Criador queria purificar o ser humano de seu pecado. Sacrificar sem amar, ou oferecer libações sem ser purificado pelo Espírito era sem valor salvífico (Heb.10:4,11; Is.1:1-17).
Continuando os princípios dos profetas, Jesus deixa claro para a Samaritana que o culto verdadeiro é oferecido com o espírito. Isso quer dizer, amar e obedecer ao Senhor, seguir a verdade (Jo.16:13; Rom.8:1-5). Isso poderia ser feito tanto em Jerusalém como em Samaria ou Babilônia. E com a vinda de Jesus esse princípio se tornaria ainda mais amplo.
No passado onde Deus se fazia presente, ali as pessoas adoravam. Santuário significa lugar santo, onde o Santo está. Após o sonho Jacó adorou em Betel com o altar. No tabernáculo as ofertas eram trazidas onde a fumaça da glória divina permanecia. Mas com Jesus, a glória de Deus encarnada, a presença de Deus andou do Mar da Galiléia ao poço de Sicar. Onde quer que Ele esteja, ali deverá ser oferecida adoração.
Jesus expande o conceito de santuário da estrutura física em Jerusalém para Si quando entra no templo expulsando os vendedores pela primeira vez. “Destruí este santuário e em três dias o reconstruirei.” (Jo.4:19). As pessoas quando ouviram Suas palavras não entenderam. Porém João, após a ascenção do Messias, explica que Jesus “se referia ao santuário do seu corpo” (v.21).
Após a encarnação de Jesus Cristo não poderiam nem judeus nem samaritanos afirmarem que Deus se limitara a uma geografia específica. “Deus é espírito”. Podemos dizer que Jesus muda as regras do jogo? Sim e não. Sim no aspecto de que não mais precisavam do santuário em Jerusalém pois a glória de Deus se fizera carne e andava entre eles. Ao mesmo tempo isso não era nenhuma novidade, pois em Ezequiel 11 vimos que Deus se fez santuário para os judeus em Babilônia. A tensão deve ser mantida.
No entanto, o que muda por completo é que até santuários em Jerusalém haviam sido construídos e ofertas ali oferecidas. Com a vinda do Cordeiro de Deus tal ação e local perdera significância salvífica. Jesus é o Templo e o próprio Sacerdote. Ainda mais com a ascenção o nosso sacrifício e sumo-sacerdote habita no verdadeiro tabernáculo feito não por mãos humanas. Refletindo sobre isso, o autor de Hebreus esclarece que, com a vinda do Messias, as figuras e sombras das coisas celestiais são cumpridas.
Visto que agora Jesus voltou ao único e “verdadeiro tabernáculo que o Senhor erigiu e não o homem”, os ritos que apontavam para o verdadeiro também deixam de ter seu valor (Heb.7-9). Isso porque Jesus “se manifestou de uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado” (9:26), o que era “impossível que o sangue de touros e de bodes” fizesse (10:4). Desta maneira, com a vinda de Jesus, o culto verdadeiro ganha dimensões bem mais superiores que o de outrora realizado.
Jesus remove a limitação do primeiro para estabelecer o segundo (10:9). Isso quer dizer que a limitação que judeus e samaritanos antes impunham no culto fora abolida. Com Cristo a barreira é de uma vez por todas removida. Todos os habitantes da terra teriam acesso à presença de Deus, ao trono de graça quando desejassem (4:14-16). Isso porque o nosso Sumo Sacerdote, o próprio Jesus, e a presença de Deus habitam nos lugares celestiais (8:1).
Mas a resposta de Jesus a samaritana não se limita apenas à adoração em espírito. “Importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.” (Jo.4:24). Em verdade. Não basta possuir boas intenções. A Samaritana possuia boas intenções ao conversar com Jesus, mas Ele deixa claro que a religião de Jerusalém é que é a verdadeira.
Em sua resposta Jesus implicava que a mulher deveria abandonar a tradição samaritana e aprender dos judeus os oráculos divinos, pois a “salvação vem dos judeus”. É verdade que no Gênesis as pessoas adoravam em um simples altar, em qualquer lugar, e Deus aceitava tal culto. E vários altares foram construídos. Não quer dizer que todos os altares eram aceitos. O de Caim não foi, nem os construídos por Salomão no monte das Oliveiras para suas esposas, nem o de Baal erigido no Carmelo.
A “salvação” e o culto verdadeiro vêm dos judeus. Dos judeus porque eles receberam a Revelação divina. Os preceitos do culto aceitos pelo Criador foram ensinados aos descedentes de Abraão. Jesus é o rebento de Davi, o filho de Israel. É o tabernáculo de Israel em Jerusalém, o local da habitação divina por séculos.
Muitos cristãos por não entenderem essa dualidade (espírito e verdade) do culto bíblico-cristão afirmam que a única coisa que importa é a intenção no culto. Esses advogam que importa adorar em espírito. Mas se esquecem que o espírito divino é o Espírito da verdade (Jo.15:26). Ignoram os preceitos da lei e os mandamentos de Jesus. Para tais os rituais do santuário são sem valor.
Por outro lado, há aqueles que  igualam à lei aos ritos litúrgicos. O resultado é que tais pessoas enfatizam que a adoração verdadeira tem que seguir a verdade (óbvio). Mas tal grupo também ignora o outro lado ao se isolarem com apenas um aspecto do culto indicado por Jesus. Esquecem que os ritos têm o objetivo de transformar o espírito humano por meio do divino, e que nenhum esforço humano pode trazer tal transformação.
E daí?
Deus é espírito e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.” A resposta de Jesus a samaritana naquela manhã merece mais de nossa atenção. Talvez por causa de nossas firmes ideias achamos que sabemos de tudo o que o culto verdadeiro envolve. Por causa de nossas tradições fechamos nossa mente para a amplitude que envolvem os conceitos de adoração, inclusos no discurso de Cristo.

E se explorarmos mais essa dualidade de espírito e verdade? O que aconteceria com o nosso culto? Abraçaríamos prostitutas que não fazem parte de nosso grupo, como Jesus fez naquela manhã? Apresentaríamos o santuário como contendo a verdade, como também fez Cristo?
A riqueza da doutrina do santuário celestial, da atual mediação de Jesus, do cumprimento das profecias e ritos na Cruz são a base do Adventismo. Mas suas lições para o culto de hoje ainda não foram completamente exploradas. Como líderes de igreja e estudiosos da Bíblia devemos explorar mais a relação entre esses conceitos e a praticidade da liturgia em nossas congregações.
O que significa a vinda de Cristo na minha Santa Ceia? E no rito do batismo? E nas letras de música que cantamos? Ao invés de continuarmos com as nossas manias litúrgicas sem entendermos o porquê delas, devemos examiná-las e assim, trazer maior significado ao culto. Quando os líderes locais aplicarem os princípios de Jesus (Jo.4:23,24) à liturgia semanal, a igreja experimentará o que o autor de Hebreus exprime – algo superior.

Minha oração é a mesma de Paulo, que diz “Ora o Deus da paz, que tornou a trazer os mortos a Jesus, nosso Senhor, o grande Pastor de ovelhas, pelo sangue da aliança eterna, vos aperfeiçoe em todo o bem, para cumprirdes a sua vontade, operande em vós o que é agradável diante dele, por Jesus Cristo, a quem seja glória para todo o sempre. Amén!” (Heb.13:20,21)