Translate

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O silêncio no céu em Apoc 8


Meses atrás meu irmão teve uma dúvida sobre Apocalipse 8:1 e elaborei essa resposta para ele. Depois descobri que o SDABC 7 (Comentário Bíblico Adventista) possui um ótimo resumo sobre o assunto, indicando que não há nada novo. Assim compartilho aqui minha resposta, espero que auxilie algum estudioso das profecias.

A estrutura do Apocalipse nos ajuda a entender o silêncio no céu em Apoc 8 referindo-se a 2a vinda de Jesus. Os 7 selos e 7 trombetas são descritos numa sequência de 6, interlúdio futuro, último selo/trombeta. O Adventismo interpreta as sequencias de 7 (igrejas, selos, trombetas, pragas) como historicas. com exceção das pragas os 7 vão do tempo do profeta João até o tempo do fim.

Os interlúdios são anúncios de juízo e salvação que preparam para a nova sequência de 7, sempre com visões do céu no futuro. No caso dos selos o interlúdio é a visão do 144,000 no céu entre o juízo do 6o selo e a volta de Jesus. Nas 7 trombetas o interlúdio entre a 6a e a 7a é a visão do tabernáculo no céu e do movimento Adventista representado pelo livrinho.

Assim não é estranho ter um intervalo entre o sexto e sétimo selo que representam eventos ao redor da segunda vinda de Jesus. O silêncio do céu ocorre imediatamente antes da volta de Jesus (Apoc 6:14-16). Isso pode ser porque os anjos do céu acompanham a Cristo (Mat 25:31). Esse silêncio também pode ser explicado pela solenidade do juízo na segunda vinda.

Em Primeiros Escritos p.15 Ellen G. White escreve: "“Who shall be able to stand? Is my robe spotless?” Then the angels ceased to sing, and there was some time of awful silence, when Jesus spoke: “Those who have clean hands and pure hearts shall be able to stand; My grace is sufficient for you.”"

Note que ela cita Apoc.6 (sexto selo) e o silêncio no céu juntos. Na página seguinte ela diz que o tempo de viagem da Terra para o céu ("mar de vidro" em Apoc 15:2) será de 7 dias. "We all entered the cloud together, and were seven days ascending to the sea of glass, when Jesus brought the crowns, and with His own right hand placed them on our heads."

A festa dos tabernáculos durava 7 dias e o oitavo dia era mais uma celebração de salvação (Lev 23:33-44). As festas de Lev 23 são interpretadas como proféticas ou comemorativas de eventos no plano da salvação. Páscoa - Morte de Jesus; Pães Asmos - Santa Ceia ou morte de Jesus; Primícias - Ressurreição; Pentecostes - Chuva temporã (Atos 2) e Serôdia no tempo do fim (Joel 2:28-32) - Espírito Santo para colheita (Apoc 14:14-20); Trombetas (anúncio do juízo - Apoc 8-11 e 14:6-12); Expiação (dia de juízo - Dan 8, Apoc 11:19, 14:7) e Tabernáculos (volta de Jesus - Apoc 15).

Perceba que as três festas da primavera (Páscoa, Asmos e Primícias) são referentes a 1a vinda de Jesus. As três do outono (Trombetas, Expiação e Tabernáculos) são período de colheita da 2a vinda de Jesus. Pentecostes no meio aplica-se tanto a primeira vinda como a segunda.

Então faz sentido que o silêncio no céu por cerca de 7 dias (meia hora) refira-se a festa dos Tabernáculos onde os santos habitarão temporariamente com Jesus na nuvem viajando para o céu. (Primeiros Escritos, 16).

sábado é celebração do livramento!

Os mandamentos de Deus ao povo de Israel têm sido mal interpretados por muitos Cristãos por muito tempo. Marcião não via nele algo positivo, nem Lutero, que ao ler Tiago considerou um documento não condizente com os que eles entendiam da graça ou salvação divina. Mas será que eles leram Exôdo 20 em sua beleza literária?

Tiago estava certo, as palavras do Senhor em Êxodo 20 são de livramento. Creio que o irmão de Jesus entendeu bem o texto da Lei da Liberdade, como ele a chama. Sugiro que a razão que Lutero, Marcião e outros Cristãos não compreenderam os mandamentos divinos é que eles não entenderam o coração dessa lei, o sábado. O tema recorrente na lei é o trabalho e o descanso. Reflita comigo como a filosofia ou ética de trabalho divino soa como uma promessa aos Israelitas escravos moldando as 10 palavras divinas.

O texto começa, "e falou Deus todas essas palavras a eles dizendo: Eu sou o SENHOR teu Deus que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão (עבד)..." Para ex-escravos que haviam sofrido nas mãos de um líder tirano, não  precisar mais se submeter aos serviços/trabalhos/obras do sistema Egípcio era boas-novas (evangelho). Com esse contexto de escravidão em mente reflita comigo como cada mandamento se torna uma bela promessa de Deus aos seus filhos.

(1) "Não terá outros deuses diante de Mim"
Os deuses representado pelo faraó estavam acabando com as vidas dos Israelitas, não tê-los mais era uma liberdade. O texto em Hebraico pode muito bem ser traduzido dessa forma, "Não haverá outros deuses além de mim." Isso é mais que um mandamento é uma afirmação que a liberdade deles estava garantida. Não mais voltariam ao Egito e faraó para servir/trabalhar para seus deuses.

(2) "Não farás para ti imagens...e não as servirás (עבד)"
Perceba que a mesma palavra em Hebraico (עבד- trabalho, obra, serviço) descreve a situação de escravidão dos Israelitas no Egito. É possível que parte das obras que os Israelitas estavam fazendo obrigados pelo faraó involvia o culto dos deuses Egípcios, para os ex-escravos Israelitas não fazê-los mais era um alívio. Principalmente porque o Deus que "faz misericórdia", os "visitou" quando no Egito.

(3) "Não carregarás  em vão..."
A maioria das traduzões usam o verbo (נשא) com o sentido de tomar. Mas o que é tomar o nome? Esse verbo tem a conotação de erguer, carregar, como em Êxo 14:10 - "Os Israelitas levantaram seus olhos". Enquanto no Egito, de acordo com o cap.1, eles estavam carregando tijolo e palha em vão, sem benefícios para seus familiares, o Deus que eles agora servem não ordena algo que não lhes traga benefício. Pelo contrário, os que possuem um estilo de vida vão ou mentiroso (e.g.Êxo 23:1 - שוא) são considerados impuros pelo Deus de Israel.

(4) "Lembra-te do dia de Sábado para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás todas as SUAS obras (עבד)..."
A ordem divina aqui é um manifesto à liberdade. É a mais clara expressão da ética do Deus de Israel. Não mais os Israelitas deveriam fazer obras em vão, para outros. Dos 7 dias da semana Deus deu 6 deles para que pudessem realizar os próprios sonhos. Perceba como a linguagem do mandamentoo deixa isso claro, "farás todas as suas obras". O trabalho era DELES. Não mais carregar tijolos no sol, o dia inteiro para construir palácios de iniquidade para os inimigos de Deus. E o que é mais bonito nesse manifesto é o que segue.

"E o sétimo dia é o Sábado do SENHOR teu Deus".
Que Deus é esse? O que tinha recentemente os livrado "da casa da servidão." (v.1) O dia desse Deus deve ser algo muito bom. O próprio nome já indica isso. Possivelmente a palavra sábado significa descanso. Não é à toa que todo ano sabático (sétimo) a natureza descansava e os seres humanos também (Lev. 25:4). E a cada 7 ciclo de 7 anos todo tipo de dívida era perdoada, era o Sábado dos Sábados (perdão de dívidas financeiras, os escravos eram libertos, a terra voltava ao seu dono - Lev 25). Para os Israelitas, como ex-escravos, essa ordem divina deve ter soado ainda mais impressionante.
"Nele (no sábado) não farás nenhum trabalho ( לֹא־תַעֲשֶׂ֣֙ה כָל־מְלָאכָ֡֜ה)"
Se nos 6 dias da semana eles estavam livres para fazer as obras dos seus sonhos, no dia do seu DEUS (mestre) eles deveriam descansar. Que notícia boa. É como se alguém oferecesse um emprego onde 86% do seu serviço o empregador pode fazer coisas que precisa para sobreviver e para seu prazer (para próprio benefício) e nos 14% de obrigação com o patrão o empregador deveria descansar. Bom demais?! Para que os Israelitas não interpretassem mal esse conceito, Deus deixa bem claro que em Seu reino isso aplicava a todos os Seus servos.

"nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo (עבד), nem tua serva, nem nenhum animal e forasteiro que habita com vocês"
Ninguém, absolutamente, nenhum ser vivo criado por Deus deveria ser forçado a trabalho para o benefício de outro. Essa é a filosofia do Egito que o Deus de Israel é contra, escravidão.Por que?

"Pois em 6 dias o SENHOR fez...tudo...e descansou."
Esse é o Deus que visitou os Israelitas na "casa da servidão/escravidão" do Egito. É o "Deus que faz misericórdia". A referência a criação em Gên 1 mostra que o trabalho de Deus é criativos, prazeroso, frutífero, que beneficiam não só ao que faz mas todos ao seu redor. Nos 6 dias da criação Deus fez tudo que a humanidade precisava e descansou como exemplo de sua ética de trabalho. Os Israelitas deveriam fazer o mesmo, trabalhar 6 dias providenciando o bem dos outros e no sétimo dia deveriam descansar. Serviço que não beneficia a criação à luz dessa ética de trabalho é "vão". E carregar (fazer) coisas em vão é proibido no reino de Deus (mandamento 3), por isso os próximos 6 esclarecimentos no decálogo. Seria isso semelhante aos 6 dias de trabalho semanal dado ao homem?

"Honre os seus criadores (progenitores), Não matarás. Não adulterarás. Não furtarás. Não engane nem deseje do seu companheiro o que não é seu,nem a casa, a esposa, a serva, servo, o animal..." Perceba a semelhança do último mandamento com o quarto.

Comunicação divina: As palavras de Deus em Êxodo 20 não são meras ordens sem propósito. Especificamente a regulamentação do descando no sétimo dia ensina uma ética de trabalho e vida onde a liberdade e o bem do próximo são prioritários.  As leis divinas não permitem exploração, seja no trabalho (baixos salários, falta de segurança), em casa (abuso conjugal e com os filhos), na igreja (abuso clerical, pedofilia) ou em qualquer esfera da vida. Para os que vive(ra)m num regime de opressão, tais palavras são mais que ordens, são promessas de um nova vida.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Interpretações dos 6 selos do Apocalipse - tendências Adventistas

Continuando a reflexão sobre as possibilidades interpretativas dos selos de Apoc 6  sugeridas por intépretes historicistas Adventistas resumo os períodos históricos na tabela abaixo.

1o Selo – Cavalo Branco
Período Apostólico
(Branco = pureza do Evangelho)
Anderson, LaRondelle, Paulien, Ranko
2 o Selo – Cavalo Vermelho
100-325 AD  //
Período geral de perseguição
(Vermelho – sangue dos santos)
Anderson  //
LaRondelle, Paulien, Ranko
3 o Selo – Cavalo Preto
Início da Idade Média   //
Período geral de rejeição do Evangelho
(Preto – ausência de luz/branco – Evangelho)
Anderson, LaRondelle //
Paulien, Ranko
4 o Selo – Cavalo Pálido (esverdeado)
Papado – Alta Idade Média   //
Período geral de forte rejeição do Evangelho
(Pálido = morte como resultado da rejeição da vida oferecida no Evangelho)
Anderson, LaRondelle //
Paulien, Ranko
5 o Selo – Clamor dos mártires
Reforma – Fim  //
Grande Tribulação (Mat 24)   //
Tempo de Juízo (Dan 8 – “até quando”)
Anderson, Paulien  //
Ranko   //
LaRondelle
6 o Selo – Dia do Senhor
Sinais cósmicos
XVIII-Fim
Eventos cósmicos com datas específicas
Eventos cósmicos sem datas específicas

Anderson  //
LaRondelle, Paulien Ranko

Conforme a tabela detecto algumas tendências nas interpretações Adventistas dos 6 selos do Apocalipse. Primeiro, como mencionado no texto anterior, há uma certa harmonia em dividir os selos em dois grupos (1-4; 5-7). Os primeiro grupo que contém os cavaleiros são interpretados historicamente do período apostólico até aproximadamente a Reforma ou século XVIII.

A outra tendência que percebo é referente ao segundo grupo de selos (5-7). Todos concordam que o sétimo selo se refere a volta de Jesus e o sexto selo termina no limiar desse evento.Os detalhes do quinto e sexto ainda estão em questionamento. No quinto selo as sugestões divergem quanto a aplicação histórica da espera dos mártires. Nesse selo há um questionamento à Deus, da parte dos que sofreram perseguição (selos 2-4). Os mártires exclamam, "até quando" o juízo? A eles é dito que esperem um "pouco mais" (Apoc 6:10,11).

LaRondelle faz uma conexão linguística do "até quando" com Daniel 8:13-14 e sugere que o quinto selo termina em 1844, conforme a profecia das 2300 tardes e manhãs. Ambos os textos falam de juízo e precedem imediatamente a vinda do Messias. Anderson, Paulien e Ranko dependem do quarto e sexto selo para determinar o período do quinto selo, da Idade Média/Reforma até próximo a volta de Jesus (6o. selo). Até aqui as divergências são pequenas e facilmente ajustáveis cronologicamente e biblicamente.

É no sexto selo que as interpretações Adventistas vão divergir mais afetando a interpretação do restante do Apocalipse, principalmente as trombetas. Apesar de todos concordarem com seu término (o fim ou volta do Messias) os sinais de anúncio desse grande dia de juízo são interpretados diferentemente. O terremoto é o ponto mais controverso e sobre ele refletimos no próximo texto.

segunda-feira, 30 de março de 2015

Interpretações historicistas dos 6 selos do Apocalipse

O livro do Apocalipse, por sua linguagem simbólica, permite uma gama de interpretações. Várias leituras foram sugeridas para esclarecer sua mensagem dentro do Adventismo. Aqui reflito sobre algumas possibilidades interpretativas de Apoc 4-7 (7 selos) dentro de uma perspectiva historicista.

Os pesquisadores historicistas consultados concluem que os selos devem se compreendidos como as 7 igrejas, representando um panorama histórico que inicia na época do profeta até a volta de Jesus. A base textual apontada por eles é ancorado no sexto selo que descreve a vinda do Messias ou o grande e terrível do Senhor mencionado pelos profetas do Antigo Testamento (Apoc 6:16). A partir dessa conclusão, eles sugerem que o início dos selos devem começar no tempo do profeta João, o século I AD.

Alguns argumentos textuais são relacionados ao início dos selos. (a) A visão do trono em Apoc 4-5 representa a entronização de Jesus após Sua ascenção; (b) Semelhança com outras profecias apocalípticas que iniciam no tempo do profeta e vão até o fim - e.g. Dan 2, 7; Mat 24 e Apoc 2-3. Dessas passagens apenas em Daniel é deixado explícito que a profecia deve ser interpretado como um panorama do tempo do profeta até o tempo do fim. A passagem de Mat 24 não deixa claro a sequência histórica dos eventos descritos e as 7 cartas às igrejas (Apoc 2-3) também não possuem marcadores cronológicos explícitos.

Por causa da ausência de marcadores temporais alguns intérpretes sugerem que as 7 igrejas e os selos podem ser intepretados como símbolos de períodos específicos na história tanto quanto eras gerais que apresentam características descritas no texto. Outros, no entanto, acreditam que é possível atribuir datas específicas tanto às 7 igrejas como aos 7 selos. Apesar da divergência nos detalhes há pontos em comum entre eles. Os 7 selos são divididos em duas partes, 1-4 e 5-7.  Os quatro primeiros selos se aplicam primariamente até a Reforma Protestante no século XVI AD. Os últimos selos (5-7) devem representar eventos após a Reforma indo até o fim. O argumento textual para a divisão é claro, há quatro cavalos nos primeiros 4 selos.

Jon Paulien, Ranko Stefanovic e Hans LaRondelle por exemplo escrevem que os selos 1-4 são lições gerais da rejeição do evangelho de Cristo. Visto que o branco no Apocalipse sempre é relacionado a Deus e seu povo, o cavalo branco representa Jesus e o Evangelho. Na sequência os próximos cavaleiros e cavalos representam inimizade ou rejeição do Evangelho. A violência usada contra Cristãos descritas nos selos 2-4 continuam atualmente, por isso sua aplicação não terminou.

Roy Allan Anderson prefere atribuir datas específicas aos selos igualando a sua interpretação das 7 cartas em Apoc 2-3. No próximo texto há uma tabela resumindo a aplicação histórica dos selos de algumas possições interpretativas discutidas aqui.