Lição 6 –Adoração, música e louvor!
Para os cristãos ligados nos acontecimentos do mundo está difícil louvar. Guerras que nunca terminam. Inocentes morrendo de fome na Somália por causa da tirania de orgulhosos dominados pelo pecado. Familiares morrendo de câncer. Saudades. Contas para pagar...a lista parece sem fim.
Mas quando olho para Cristo...ah! Quando olho para Criação, para Bíblia, e o que Jesus tem feito na história da humanidade e na minha vida não posso parar de louvar. O contraste entre o que faço e o que Deus faz é parte essencial na música de Israel. Nessa simbiose entre Criador e criatura os poetas Israelitas criaram músicas de lamentações, agradecimentos, testemunhos, exaltação ao Senhor, de adoração corporativa e orações individuais.
Possivelmente nesse sábado, nas IASD do mundo, pessoas sem nenhuma formação ou experiência, e outras poucas até com experiência musical, todas bem intencionadas (espero) estarão discutindo na escola sabatina formas e formatos musicais. Poderão se perder argumentando o que fazemos no culto. Mas infelizmente Jesus e a história da salvação, o que Deus faz, serão esquecidos.
Como adoração na Bíblia centraliza em Deus, gostaria de discutir o assunto de música e louvor nas Escrituras, mantendo o contraste que acho que ela apresenta, acima apresentado. Acho importante lembrar o que a autora da lição indica, que não temos hoje nas Escrituras a melodia nem o ritmo das músicas de Israel. Não temos partituras escritas na Bíblia.
Isso não quer dizer que instrumentos e técnica não são importantes. Mas pelo menos não é o que mais sabemos. Assim, criar um argumento e julgamento sobre “música bíblica” do silêncio histórico e impor ao leitor uma forma que talvez nem seja perceptível na Bíblia, não será o meu foco. Quero refletir o que temos mais claro. O que temos são poesias e histórias. E é sobre elas que gostaria de me ater.
Sábado e altar
Como já observamos anteriormente, adoração verdadeira na Bíblia envolve Criador e criatura. Nesse relacionamento, o que Deus faz promove a resposta da criação. Assim, em uma questão lógica, ação divina precede reação humana no culto. No estudo do Gênesis vimos que o ato da criação (Gn.1-2) é o ato divino principal. E no Êxodo, a nova criação de Israel é adicionada à criação como motivador cúltico.
Esses dois elementos são unidos e simbolizados pelo sábado, o dia de descanso semanal (Ex.20:8-11 e Deut. 5:12-15). Nele a criação lembra que a existência depende completamente do Senhor Deus. Junto com o sábado, o altar se torna peça fundamental na liturgia após o pecado. Assim como o memorial do tempo, o altar lembra das ações divinas, mas no espaço. Juntos eles integram as duas dimensões da existência que envolve o culto e o relacionamento de Deus com o mundo.
Eles, tanto o altar como o sábado, também ensinam que adoração envolve história. Visto que o culto verdadeiro se centraliza nas obras divinas, o conhecimento da história recebe papel importantíssimo. Quando Eva esqueceu o que Deus falou, ela adorou Satanás. Quando Israel esqueceu o Deus de Abraão, Isaque e Jacó, eles se tornaram escravos no Egito e na Babilônia.
No Sinai Deus apareceu lembrando da história. “Eu sou o Senhor teu Deus que te tirei da terra do Egito...Lembra-te...” (Ex.20). No altar e no sábado Deus lembra de sua promessa em Gn.3:15. O culto de Israel, cheio de festas e ofertas era um constante lembrete do que Deus fez (passado) e faria (futuro) com o Messias. Não é à toa, portanto, que o santuário (o centro espacial da adoração Israelita) se torna um diagrama profético das ações divinas focadas em Cristo (Messias em grego).
História e experiência
É no contexto das ações divinas que a música floresce em Israel. Por esses fatos e outros, percebo que o foco da música na Bíblia é Deus no tempo e no espaço. O que Deus faz na história do mundo e na minha é o que mais motiva a adoração. Por isso que a música é constantemente relacionada ao templo. No santuário, as ofertas ensinavam o sacrifício que Jesus faria. Nas festas, Israel comemorava o que Deus havia feito e nós, olhando hoje, vemos como Deus agiu depois da Cruz.
Os profetas Ezequiel, Daniel e João usam o templo como modelo pedagógico para ensinar os atos de Deus na história. Especialmente Daniel 8, 9 e Apoc.11 e 14, talvez as profecias mais relevantes da Bíblia para nós hoje (o remanescente). É no templo que Davi promove a criação dos músicos sacerdotais e produz a maioria dos Salmos.
É relacionado ao templo que Habacuque, Jeremias, Ana e outros também entoam suas poesias ao Senhor. Pois inspirados pelas ações de Deus na história eles expressam individualmente e em grupo seus sentimentos em música. Música no templo é experiência de pessoas com Deus. O sagrado do profano é distinguido pela presença de Deus nessas experiências. Com esse contexto sobre a produção musical Israelita, vamos refletir o que distintas composições nos informam sobre a música e o culto do povo de Deus antigo.
Experiências contadas
Após 40 anos perambulando nas areias e pedregulhos quentes da península do Sinai, Deus acha por bem criar um seguro de vida para o sofrido Israel (Deut.6:1-2). “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te e ao levantar-te.”(v.4-7)
O seguro de vida era lembrar constantemente das leis do Senhor e de Suas obras. E qual forma melhor de memorizar e trazer à mente, em qualquer lugar, os ensinos de Deus do que por meio de música?! Acho que por isso que os judeus ainda hoje lêem as Sagradas Escrituras cantando. Quão fácil é lembrar de uma música! E se Israel deveria lembrar de Deus para viver, certamente suas músicas falariam dEle.
Seguindo essa tradição, as poesias Israelitas registradas na Bíblia gastarão sua atenção para falar de Deus. Elas são expressas em métricas e gêneros literários diferentes. Mas Deus está sempre presente. Jeremias, ao escrever Lamentações, chora. Habacuque louva o livramento futuro. Miriã o livramento passado. Ana agradece, Davi reclama. E assim as músicas na adoração Israelita envolvem todos os aspectos da vida, como Deus pedira em Deuteronômio 6. Faria bem a nós fazermos o mesmo.
Na primeira música que recordo no Antigo Testamento, Moisés, Miriã e todo Israel cantam logo após o livramento do Mar Vermelho e o cativeiro egípcio. “O Senhor é a minha força e o meu cântico.”(Ex.15:2) O canto de Israel é Deus. Não há outro motivo para cantar senão Deus. E Ele já é suficiente. “Ele me foi por salvação; este é o meu Deus; portanto, eu o louvarei; Ele é o Deus de meu pai; por isso, o exaltarei.” (v.2)
O motivo de Israel cantar junto com Moisés foi pelo que o SENHOR fez e é. Como diz a melodia: ó Senhor, te louvo pelo que tu és, essa é a única razão para eu cantar... Essa única razão, no entanto, não é o único motivo das músicas em Israel. a
Aqui é importante ressaltar a diferença dos gêneros literários nas poesias bíblicas.
O cântico de Moisés, assim como muitos Salmos, exalta o que Deus é através do que Ele fez por Israel. Habacuque, em sua poesia, exalta as obras do Criador em juízo (Hab.3), assim como os Salmos 105 e 106. Nesse tipo de música é comum contar histórias, pois o motivo do cântico são as ações divinas no tempo. Em tais músicas Deus é exaltado como ser supremo e digno de receber todo tipo de expressão de reconhecimento humano.
Mas nem só de alegria é composta a nossa experiência com Deus na história. O livro de Lamentações é o maior (literalmente falando) exemplo disso. Essa música/poesia começa com uma reclamação e acaba com uma pergunta a Deus. Já pensou entrar na igreja e cantar uma música de reclamação a Deus como essa?
“Como jaz solitária a cidade outrora populosa...rejeitou o Senhor o seu altar, e detestou o seu santuário...Ele me levou e me fez andar em trevas e não na luz...Por que te esquecerias de nós para sempre?” (1:1; 2:7; 3:2; 5:20)
Esse era o sentimento honesto do profeta Jeremias, que sofria em lágrima pela cidade e povo santo de Deus. Mas nem a perda de sua família, a destruição de sua nação e a aparente injustiça divina fez com que sua música cessasse ou fosse dirigida a outro ser. Em alegria ou tristeza, Deus continua sendo o motivo central das músicas em Israel. Ao livro de Lamentações juntam-se Salmos como o salmo 10, 13, 22 e outros.
Junto com esse tipo de gênero literário, as poesias/músicas Israelitas ganham contornos de petição e oração. Os que estão aflitos, oprimidos pelo juízo de Deus ou pelo pecado clamam em música ao Criador. “Ó Senhor te responda no dia da tribulação;...do Teu santuário envie socorro...Ó Senhor, da vitória ao rei, responde-nos quando clamarmos.” (Sal.20:1,2,9)
Esse pedidos de socorro são calcados na fidelidade divina demonstrada em ações passadas. A criação e o Êxodo, no entanto, são motivos bem presentes nos salmos. O tema da aliança, ou do pacto divino com os ancestrais, é importantíssimo. Como Deuteronômio estipula, a base do relacionamento entre Deus e Israel é a Lei. A fidelidade divina demonstrada em Seus atos são o fundamento do culto prestado pelo povo (ver. Salmo 80).
Quando o livramento ocorre, o poeta acha ainda mais motivos para cantar. Os cânticos que resultam de livramento divino podem ser divididos em testemunhos ou louvores individuais (Sal.23, 116, 139), e convite ao louvor congregacional (Salmo 81, 100, 113, 150). O que percebo é que em Israel o adorador reclama cantando, questiona em música, pede em poesia e agradece em louvor, tanto individualmente como corporalmente.
O maior dos cânticos
Na Bíblia, a maior “música” é o livro de Cantares (ou Cântico dos Cânticos) de Salomão. Esse livro é um musical, uma história encenada em música (veja a trama entre noivo, noiva e cortejo em diálogo em todo o livro). A única do seu tipo em toda a Bíblia. E qual o seu tema, o amor. Como João bem lembra, “Deus é amor” (I Jo.4:8). Salomão obedece ao pedido divino em Deuteronômio 6 de “amar o Senhor de todo o coração, de toda tua alma e de toda a tua força”. E isso ele reflete em seu poema de casamento.
Em paixão fumegante os noivos descrevem seus sentimentos um ao outro. “Eis que és formosa, ó querida minha, eis que és formosa...Como és formoso amado meu, como és amável!” (1:15,16). Tal paixão verdadeira inspira os que estão ao seu redor, ao ponto de produzir ainda mais música. “Em ti nos regozijaremos e nos alegraremos, do teu amor nos lembraremos, mais do que o vinho; não é sem razão que te amam.” (1:4) Isso é adoração de mais alto nível!
O que produz tamanho amor e canto? O esposo responde ao final da peça: “Porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme. As suas brasas são a chama de YHWH (SENHOR), são veementes labaredas. As muitas águas não poderiam apagar o amor, nem os rios afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens de sua casa pelo amor, seria de todo desprezado.” (8:6-7)
Conclusão
Há motivo maior para cantar? Certamente não. O amor de Deus, revelado na criação, no casamento, no Êxodo, no Sinai, na resposta à oração de Ana, no silêncio ao ouvir as reclamação de Jeremias, no perdão ou confissão de Davi, no bramido de Jesus na cruz é o único motivo digno de ser cantado. Jesus Cristo, o maravilhoso Conselheiro, Deus forte, Pai da eternidade, Príncipe da paz é o motivo suficiente para produzir louvores eternos entre a criação.
Faríamos bem em meditar no exemplo de Israel e usar músicas/poesias cantada para memorizar os atos amorosos de Deus na história. Lembrando que o amor divino deve ser o centro de nossas músicas, e que podem ser expressadas em orações, reclamações, louvores de agradecimento e declarações de amor.
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