lição 10 - Adoração: Do exílio à restauração
Adoração, templo e exílio. A ligação entre esses temas é o objeto de estudo da lição dessa semana. Como vimos em estudos anteriores, culto é uma interação entre dois seres, um divino e outro humano. Nessa interação comunicativa os dois respondem (reagem) à ação do outro. Ao mesmo tempo os homens respondem a manifestação do Criador. O Senhor Deus age conforme as ações humanas. Compreendendo essa interação entenderemos o papel da lei e do sacrifício no santuário e no exílio.
Idolatrando em Jerusalém
Por ocasião da saída dos descendentes de Abraão do Egito, o povo de Deus se torna uma nação de sacerdotes (Ex.15). Como vimos nas duas primeiras lições há diferenças marcantes entre o culto Israelita antes do santuário e o culto pós-santuário. Mas há semelhanças essenciais do altar e do sábado, como também já estudamos.
Esses dois elementos, altar e sábado, ensinavam Israel que o culto verdadeiro era oferecido ao Criador pelo que Ele fez, faz e fará. O foco do sábado e do altar são as ações divinas e não humanas na salvação do mundo. Relacionando a criação primordial, o sábado lembra o adorador de sua existência, e em relação a nova criação, sua dependência.
Como também já vimos no estudo do Êxodo, a libertação ocorre por causa da adoração verdadeira. Deus se revela a Moisés, pedindo que este informasse faraó que Israel precisava sair para “adorar”. O Senhor fere com pragas a natureza que simbolizava os deuses africanos, deixando claro quem era o verdadeiro Deus. E ao mesmo tempo ensina o esquecido povo de Israel que o Deus de Abraão, Isaque e Jacó era o Senhor.
Esse evento foi tão marcante na cultura Israelita, e nos que escreveram a Bíblia, que ele se torna paradigmático. Os exílios e libertações que se seguem refletem essa mesma história de esquecimento por parte de Israel, idolatria, pragas divinas, libertação e construção do templo.
Por duas vezes, uma à primeira geração do Egito, e outra à segunda depois de quarenta anos, Moisés ensina a Israel o relacionamento divino-humano. Em Lev.26 e Deut.7 e 28 encontramos os mais detalhados ensinos sobre o regimento do relacionamento entre Deus e Israel. De acordo com tais textos, o culto é elemento chave (Lev.26:1; Deut.7:4 e 28:14).
Israel deveria tomar cuidado em não voltar à idolatria, como no passado quando escravos. Eles deveriam lembrar que o Senhor era o único Deus, o qual os livrou do cativeiro no Egito e ofereceu terras de abundância. Aos que continuassem a adorá-lo, bênçãos sem medida seguiriam naturalmente, pois eles estavam com o Deus da vida (Lev.26:3-13; Deut.7:12-24 e 28:1-13).
No entanto, logicamente, os que voltassem às práticas idolátricas do Egito receberiam o contrário (Lev.26:14-46; Deut.28:15-68). O culto era, portanto, central nessa equação. Se os Israelitas adorassem o deus errado, coisas erradas resultariam em suas vidas. Se escolhessem o Deus certo, coisas boas ocorreriam.
Ah se nosso relacionamento no Grande Conflito fosse sempre assim, preto no branco! Mas o resto das Escrituras mostram que há exceções (e.g. Jó, Daniel, Ezequiel, Jesus, Pedro, Paulo). Não é nosso interesse nos focar na exceção, mas na regra.E a regra é clara, já dizia Arnaldo Cesar Coelho.
De acordo com essas passagens, o culto verdadeiro garantiria vida aos Israelitas. O que nos interessa ainda mais nesses textos é a progressão das punições, encontrada mais claramente em Levíticos. Nele há uma cadência de quatro 7 (“sete vezes mais...”). Na cadência dos 7 Deus explica que o motivo da punição é redentivo. Após a primeira aflição de doenças (contraste com Ex.15:26) vem a primeira intensificação das maldições:
“Se ainda assim com isto não me ouvirdes, tornarei a castigar-vos sete vezes mais por causa dos vossos pecados.” (v.18)
E assim por quatro vezes (Lev. 26:18,21,24,28). Vem a doença, a seca, perseguição dos animais, espada inimiga, a fome e por fim o exílio. O mesmo ocorre sem a sequência dos sete em Deut.28. O exílio é o ápice das maldições contra a idolatria. Ela é o último castigo contra a desobediência à salvação oferecida pelo Criador por meio do sábado e do sacrifício no altar.
Lev.26:34 informa ainda que apenas com o exílio a terra descansaria como o homem no sábado semanal, ecoando a linguagem dos anos sabáticos de Lev.25. Esdras, ao registrar após o cativeiro o exílio, faz essa conexão (IICr.36:21) juntamente com a profecia de Jeremias. Em Jeremias 25:12 e 29:10 Deus informa que o cativeiro Babilônico duraria 70 anos (7 – sabático x 10 – completo).
Ao investigar o contexto das profecias de Jeremias observamos que a razão do cativeiro é a mesma de Lev.26 e Deut.28, a idolatria e desobediência às leis do Criador, principalmente a quebra do sábado. Jer.25:4-7 deixa claro que a idolatria e a rejeição dos profetas enviados por Deus para advertir Israel dos seus pecados (II Cr.36:16) causou o exílio em Babilônia e a destruição do templo em Jerusalém.
Apesar dos rituais oferecidos no templo, dos muitos sacrifícios no altar, a vida dos adoradores não estava transformada pelo amor de Deus. Seus corações não estavam circuncidados do mal (Lev.26:41 e Deut.10:16). Não bastava a aparência. Na adoração verdadeira, a humilhação perante Deus é completa pois tudo vem dEle, o altar, o fogo, o sacrifício. Mas Israel havia esquecido como muitos hoje. E assim o templo divino, usado para idolatria ritualística, fora destruído por Nabucodonosor.
Adorando em Babilônia
Como o livro de Ezequias mostra, por causa da idolatria de Israel a glória do Senhor abandona Jerusalém. A cidade é desolada, sem o rei da glória para trazer paz a terra. A glória divina abandona Jerusalém, mas não Israel. Deus segue o seu povo mesmo no pecado do cativeiro. A glória que antes enchera o tabernáculo Mosaico, o templo Salomônico, agora enche a terra da Babilônia, que se torna o santuário (Ez.11:16).
Que maravilhosa descrição! O homem pode abandonar a glória divina, mas ela não desiste do pecado humano. Israel pode quebrar sua aliança com o Deus de Abraão e Davi, contudo a fidelidade do Senhor é grande e sua misericórdia dura para sempre. Os Israelitas no cativeiro acusaram Deus de os ter abandonado. Porém: “Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a esquecer dele, eu todavia, não me esquecerei de ti.” (Is.49:15)
No cativeiro Deus se torna um santuário para o Israel de Jerusalém em ruínas. Para os que tem sede, Deus se torna água. Para os que são órfãos, Deus se torna Pai. Para os culpados, Deus se torna pecado. Para os condenados, Deus se torna justiça. Em Cristo tudo o que não temos e o que não somos se torna real. Tudo o que precisamos em nossa situação de exílio nos é garantido por Jesus. “Lhes servirei de santuário.”(Ez.11:16)
Com a glória em Babilônia, Israel poderia adorar. Ao contrário do Deus Babilônico, o Criador não se limita a construções e ações humanas. A glória divina habita onde quer e quando desejar. Por ocasião do exílio Babilônico a glória de Deus acompanhava os exilados, o triste, porém, é que nem todos exilados acompanhavam a glória. Mesmo com os profetas e a história ensinando seus erros, muitos Israelitas no exílio continuaram em sua apostasia.
No entanto nem todos esqueceram a glória de Deus e a verdadeira adoração. Daniel 1 e 3 mostra que mesmo em Babilônia podemos adorar ao Criador. O quarto elemento na fornalha exprime a verdade de Ez.11:16, Deus estava com Seu povo. A presença de Deus não apenas protegia fisicamente como também em revelações especiais protegia o futuro de Israel contra a idolatria.
Foi no exílio que Daniel e Ezequiel receberam visões sobre o tempo do fim. É no exílio que os fundamentos proféticos da vinda do Messias são estabelecidos. E o Messias tem tudo a ver com adoração e cativeiro. É Ele quem nos livra do pecado e merece toda honra e louvor. O conhecimento das profecias acerca da atividade Messiânica (Dan.7-9) é de fundamental importância à adoração dos exilados.
O homem pode abandonar a glória divina, mas ela não desiste do pecado humano.
A promessa que Deus libertaria Seu povo, que o santuário seria restaurado e que o pecado terminaria é motivador ao adorador. A segunda visão de Daniel é dada em linguagem dos sacrifícios no santuário, mas especificamente do dia da expiação (o juízo). Pois apenas nessa festa o bode e o carneiro eram oferecidos juntos (Lev.16). É nessa visão que a base da doutrina Adventista é dada (Dn.8:14).
Em resposta à visão Daniel ora à luz da profecia de Jeremias. Fazendo as contas, os 70 anos para a restauração estava perto, e como Deus pedira (Jer.29:12,13), ele orava por intervenção divina. Em sua oração (Dan.9) ele reconhece que fora a idolatria e desobediência aos profetas que causara o cativeiro. Ele pede perdão e clama por misericórdia. Isso é adoração verdadeira no exílio.
E Deus responde o culto oferecido por Daniel na hora do sacrifício (Dan.9:21). Como Daniel podemos/devemos oferecer nossos sacrifícios de oração ao Senhor que habita no verdadeiro tabernáculo no céu (Rom.12:1,2 e Heb.4:16), porque também estamos em exílio. A reposta divina é uma das mais importantes profecias da Bíblia, a data da vinda do Messias, a razão da verdadeira adoração. Ele viria para cumprir todo o significado dos sacrifícios outrora oferecidos (Dan.9:24 e 26).
No contexto do ano sabático de Jeremias 29 e os 70 anos de cativeiro por causa da idolatria, o anjo revela a vinda e morte da imagem suprema de Deus, Seu Filho. Se o cativeiro foi 70 anos, o período de misericórdia é 7 vezes 70 = 490 anos. Assim como Deus intensificou por 7, quatro vezes, a pena do pecado em Levítico, agora Ele multiplica por 7 a Sua misericórdia. Mas não apenas 4 vezes, mas 7x70. Onde abundou o pecado, superabundou a graça. E isso é extremamente importante na adoração verdadeira.
O conceito da salvação pela graça é central no culto verdadeiro. Como já vimos, isso já vem sido ensinado desde o Éden por meio do sábado e do altar. O Messias une esses dois elementos do culto em Si, o sacrifício e o nosso descanso. Em Cristo a verdadeira adoração é alcançada. Daniel 8 e 9 se tornam assim chaves na adoração verdadeira dos cativos.
De volta a Jerusalém?
Alguns anos depois da revelação de Daniel 9, Israel volta a Jerusalém e o templo anos depois é restaurado, como prometido. O Messias vem, a glória do Senhor enche o templo (Luc.2), porém muitas pessoas continuaram ainda sem entender o que significava adorar em espírito e em verdade. Esdras, Neemias, Ageu, Zacarias, Malaquias e finalmente João Batista continuaram a advertir o povo de Deus de seus falsos costumes na adoração.
É verdade que eles estavam de volta à cidade de Jerusalém, mas não convertidos ao Senhor da cidade. Sacrificavam animais mas não seus pecados. Ofereciam ofertas mas não suas vidas. E isso fez com que acabassem crucificando o Messias. Apegados ao templo e seus rituais, como seus antepassados no tempo de Jeremias (Jer.7:1-15), rejeitaram Aquele que santificava o templo e dava significado ao culto.
E por isso, como determinado, o templo foi destruído e eles foram espalhados pela terra, agora não mais babilônia, mas Roma. Porque mesmo em Jerusalém eles adoravam como em Babilônia. Não corremos nós o mesmo risco? Como Adventistas não veneramos imagens, nem guardamos o domingo como Roma/Babilônia atual. Mas será que temos esquecido Aquele que dá todo o significado ao nosso culto? Será que tenho feito Deus a minha imagem e não o oposto?
Como no tempo de Daniel estamos em cativeiro. Babilônia reina na terra. Mas temos acesso ao santuário celestial como o profeta. Em resposta Deus tem enviado não apenas um anjo, mas 3 mensagens angélicas nos advertindo sobre Sua vinda, o juízo e o culto verdadeiro (Apoc.14:6-12). Como Daniel devemos abandonar a dieta, os deuses e os costumes de Babilônia. Olhando para o santuário no céu, onde nosso Sumo Sacerdote intercede, devemos rogar incessantemente por livramento.
Livramento de nossos pecados, livramento de nosso povo do exílio desse mundo. Confiando nas profecias e promessas reveladas por Deus, devemos confiar que o livramento está próximo. É nosso dever “buscar de todo o coração” (Jer.29:13). Já é tempo de uma reforma e reavivamento em nossa vida e nossas igrejas. O Senhor espera ansiosamente por nossa súplica.
Os 70 anos de cativeiro já terminou. Abandonaremos nossos ídolos e nos doaremos por completo ao Messias? Confessaremos nossos pecados e suplicaremos com fé por nosso livramento? Ou ficaremos em Babilônia um pouco mais? Templo, adoração e exílio. Estamos na última vez que essa sequência se repetirá. As lições do passado estão a nossa disposição. Cabe a nós aprender com ela e sair dessa vez vitoriosos.