A visão de Dan 8:10-13 representa o poder inimigo a Deus que ataca o Seu
santuário, as hostes celestiais e joga a verdade por terra. Como pode um poder
terrestre afetar as esferas celestiais? Primeiramente, essa questão não deve
ser mal-interpretada e sugerir uma separação completa de ação entre o divino e
o humano. De acordo com as Escrituras a esfera divina se relaciona com a
humana.
Diferente do dualismo platônico adotado pelo Cristianismo na Idade
Média (como vimos anteriormente), o Deus da Bíblia criou no tempo e no espaço e
agiu (age) na criação. Deus falou com Moisés face a face, manifestou-Se aos Israelitas no monte Sinai, habitou numa nuvem
no tabernáculo falando com eles. Jesus como Deus-homem andou entre os homens e
se envolveu intimamente com a criação. Assim as Escrituras ensinam que a esfera
celestial está intimamente relacionada com a terrestre.
De importância particular nessa discussão sobre presença e ação divina em
Daniel está o santuário. O santuário é a habitação de Deus entre os homens (Ex.
25:9). Jesus é a presença de Deus entre nós e o tabernáculo (Jo.1:1-14; Mat
1:23). Como no serviços do tabernáculo onde os pecadores transferiam seus
pecados para o templo, assim Jesus tomou sobre Si os pecados do mundo na Cruz
morrendo pela humanidade caída (Is.53; Rom 5-7 e II Cor 5:21). Após a
ressureição e assunção de Cristo ao céus, os pecadores estão representados em
Cristo no santuário celestial (Ef. 2:6; Heb 2:17-18; 4:15). É nessa maneira que
os pecados afetam as atividades celestiais e seus seres.
Em Daniel 8 o “chifre pequeno” ataca os “exércitos dos céus” e o santuário,
mas como? Se as hostes celestiais forem o povo de Deus (v.24 – sendo tanto
anjos como humanos, ou apenas humanos) o texto afirma que esse inimigo os
destrói de certa forma. As Escrituras descrevem como os seres humanos criados a
imagem de Deus foram atacados na história. Ela também ensina que a Igreja (Seu
povo) é sua esposa ou Seu próprio corpo, significando uma forte identificação
(I Cor 12:14). Assim, quando o povo de Deus sofre Deus sofre. Como um pai que
toma as dores de seu filho assim Cristo padece e intercede pelos Seus (Heb
2:14-18;4:14-16).
Por exemplo, na estrada de Damasco quando Paulo perseguia os discípulos de
Jesus, Cristo apereceu a Saulo dizendo que quem estava sendo perseguido era o
próprio Jesus (At.9:5). Em Sua oração ao Pai Jesus afirma que assim como o
Filho e o Pai são unidos, a humanidade e Jesus também são um (Jo. 17). Por essa
razão Jesus ensinou que quando um pobre é ajudado Ele mesmo é ajudado (Mat
25:40).
Sobre a relação entre o santuário celestial e a terra há outra dimensão
cujo o “chifre pequeno” pode atacar o santuário e as hostes em Dan 8. Visto que
a linguagem desse capítulo é tomada dos rituais do santuário, principalmente do
dia da expiação (Lev 16), uma examinada nesse ritual nos ensina outra faceta do
ataque satânico. De acordo com Lev 20:3 e Num 19:13, 20, há duas formas na qual
o santuário era contaminado, a idolatria e contaminação com cadáveres não
purificada. Caso os envolvidos não se arrependesem e ignorassem a salvação do
Senhor eles sofreriam julgamento divino pois haviam rejeitado o próprio Deus.
Assim, ao ignorar a salvação divina no santuário (serviços diário) e ao estabelecer abominação da idolatria o “chifre pequeno” polui a morada de Deus. Isso é demonstrado no livro de Ezequiel quando Judá poluiu a habitação divina em Jerusalém por meio de contaminação do cadáveres, imoralidade sexual e idolatria (Ez 10-20). Tais ações fizeram com que a glória de Deus (Sua presença) deixasse o templo que foi contaminado. A consequência física foi a destruição de Jerusalém e do templo pelos Babilônicos.