Tendo em vista a lição da escola sabatina desta semana, apresento um resultado parcial de uma pesquisa que estou desenvolvendo sobre interpretação Adventista do Sétimo Dia sobre temas proféticos ainda em grande incerteza, ou textos que possuem várias interpretações dentre acadêmicos respeitados no Adventismo. Aqui me limito apenas as visões sobre as 7 trombetas do Apocalipse.
É importante notar que a lição apenas expõe, em um pequeno trecho (na Segunda-Feira), a interpretação histórica dessa sequência de símbolos apocalípticos com a observação de que as trombetas “se aplicam aproximadamente ao mesmo período das sete igrejas e sete selos.” Aqui a lição da escola sabatina apenas apresenta uma interpretação das várias propagadas, e como é notado nos comentários abaixo, uma opinião mais recente no Adventismo.
Curioso é perceber que, apesar do principal contribuidor ser o Ranko Stefanovic, a interpretação exposta na lição não é apresentada por ele em seu comentário. Essa discrepância acontece em outros lugares e aqui apenas noto que a lição da escola sabatina não possui um autor único. O que acontece é que um manuscrito é submetido por um autor escolhido pela comissão da escola sabatina da Conferência Geral, o qual é adaptado e modificado para o mundo de acordo com a mente dos editores. Assim, não podemos apontar quem especificamente é o responsável por tais decisões editoriais.
Abaixo me limito apenas às duas maneiras de interpretações mais comuns na literatura Adventista. Um artigo futuro dará mais detalhes sobre as nuâncias dessa história. Aqui me adianto com as conclusões parciais mais relevantes relacionadas às sete trombetas. Tabelas das interpretações
O primeiro gráfico abaixo (Tabelas das interpretações) mostra a interpretação mais antiga e, possivelmente, a mais aceita até meados da década de 1950. De acordo com LeRoy Edwin Froom, em sua obra exaustiva sobre a história da interpretação profética Adventista publicada em 1950, essa é a interpretação tradicional do Adventismo do Sétimo Dia. Tal versão foi modificada na década de 1940 tendo como principal expoente o eminente professor do Seminário Teológico na Universidade Andrews, o professor Edwin Thiele.
Comparando as duas tabelas (em anexo) está claro que a última trombeta termina com a 2ª vinda de Jesus. Mas como no próprio livro do Apocalipse não está tão claro onde a sétima trombeta toca (começa), os detalhes dessas interpretações são bem diferentes. Alguns sugerem uma data inicial (1844), outros não apontam nenhuma data.
A diferença mais marcante é encontrada nas interpretações das trombetas 1-6. No que diz respeito as trombetas 1-4, temos dois grupos:
(a) Específicos: Cada trombeta representa uma tribo de bárbaros que destroem Roma Pagã –Alarico, Genserico, Átila e Odoacer (Juízo no Oeste Europeu)
(b) Generalistas: 1T destruição de Jerusalém, 2T queda de Roma, 3T Idade Média[1], 4T Idade Média (varia do séc VI-XVI)
a. Ranko Stefanovic se difere pois ele estende o tempo da 3ª Trombeta até o séc XV, quando o primeiro grupo coloca essa data apenas na trombeta 6 e os outros da segunda opinião na trombeta 4.
No que diz respeito às trombetas 5-6 encontramos:
(a) Específicos: Poderes Islâmicos. A referência de tempo da 5a trombeta (5 meses) possui variações (612-762, 632-782, 1299-1449), assim como da 6ª trombeta (hora-dia-mês-ano = 391), que é aplicado entre os séc XI-XIX. Os mais comuns são 1281-1672 e 1453-1844
(b) Generalistas: Alguns continuaram a interpretação Islâmica (Thiele e Maxwell) proposta pelos pioneiros. A maioria no entanto, enxergam as trombetas 5 e 6 como representando poderes anti-Cristianismo como o secularismo e ateísmo desde aproximadamente a Reforma Protestante até o tempo do fim. Como eles não aplicam o princípio dia-ano aos tempos dessas trombetas, não há tentativa de marcação de datas.
Percebi, em minha pesquisa, que o Edwin Thiele é provavelmente o autor Adventista mais influente nessa mudança de paradigma de interpretação profética. É apenas após sua interpretação (1950s) que a posição anterior perde força com poucos adeptos na década de 80. No entanto, ele não é seguido em todos os detalhes por intérpretes posteriores na sua aplicação das 5ª e 6ª trombetas. O que percebemos é que, após Thiele, o grupo que denomino de GENERALISTAS não mais aplicam o princípio dia-ano aos tempos mencionados nesses trechos. Isso abriu margens para uma leitura das trombetas como sendo julgamentos divinos ao Cristianismo como um todo, através de ideologias como o secularismo ou ateísmo, diferentemente de uma aplicação mais específica na história às instituições religiosas. O problema que vejo com a perspectiva mais recente é a inconsistência na aplicação do princípio dia-ano no historicismo.
Outro desenvolvimento relevante que percebo é acerca do significado das trombetas como um todo em relação aos 7 selos. A maioria dos intérpretes Adventistas enxergam nos selos uma descrição das perseguições sofridas por Cristãos e as trombetas como juízos divinos em resposta à essas perseguições em poderes apóstatas. Essa visão da função das trombetas é drasticamente modificada por aqueles que enxergam na 4 ou 5 trombetas o secularismo. Nesse caso as trombetas e o secularismo funcionariam não como juízo divino contra os perseguidores dos fiéis, mas um ataque satânico à verdade divina e seu seguidores. Há mais detalhes importantes que estou elaborando para uma futura publicação.
Finalizo apenas apontando para a realidade de que a Igreja Adventista do Sétimo Dia não possui nenhuma posição oficial e única sobre muitas porções proféticas como Daniel 11, Apoc 7-9 e 18. Apesar de apenas uma posição aparecer na lição da escola sabatina, isso não deve indicar uma visão única no Adventismo. Devemos continuar estudando as profecias com o zelo e interesse que os nossos pioneiros manifestaram, sempre mostrando cordialidade para com os nossos colegas que discordam de nossas opiniões. Se assim continuarmos evitaremos o perigo da complacência que pode causar o despreparo necessário para a volta de Jesus, o tema central do livro do Apocalipse.